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Economia

BC sinaliza volta de Selic de dois dígitos

Taxa básica de juros elevada ontem para 9,25% ao ano é a mais alta desde setembro de 2017

09 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: MARCELLO CASAL JR. / ARQUIVO AGÊNCIA BRASIL)

Com uma inflação que não dá trégua, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou ontem novamente a Selic em 1,50 ponto porcentual, de 7,75% para 9,25% ao ano. É o patamar mais alto da taxa básica de juros desde setembro de 2017, depois de o BC ter promovido, em 2021, o maior choque de juros em quase 20 anos.

Além disso, o Copom já pavimentou a volta dos juros ao patamar de dois dígitos, indicando nova alta “da mesma magnitude” no próximo encontro, em fevereiro -- quando a taxa chegaria, então, a 10,75%. O BC até deixou a porta aberta para uma mudança no ritmo de aumentos, já que retirou do seu comunicado trecho em que dizia que o passo de 1,50 ponto era o mais adequado para levar a inflação à meta.

Manteve, porém, a ressalva usual de que o plano pode ser alterado com a evolução das projeções e expectativas de inflação, do balanço de riscos e da evolução da atividade econômica, algo que pode começar a pesar com o Brasil já em recessão técnica.

Mesmo levando o juro a dois dígitos, o BC pode não alcançar seu objetivo. No mercado financeiro, a maioria das instituições já espera o rompimento da meta de inflação neste ano e também em 2022.

Para o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, o BC mantém o ímpeto de baixar a inflação, mas olha mais para frente. “Achei que foi um jeito muito inteligente de assumir que o ano 2022 está perdido.” Já a economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, afirmou que o BC deixou claro no seu comunicado que não trará a inflação para a meta em 2022. “Nosso cenário é de Selic a 12,25%, impactando a atividade.”

Ao elevar a Selic mais uma vez em 1,5 ponto porcentual o Copom citou o aparecimento da variante Ômicron do novo coronavírus como um fator que adiciona incerteza sobre o ritmo de recuperação nas economias centrais, diante da possibilidade de uma nova onda de Covid-19 no inverno do hemisfério Norte.

“No cenário externo, o ambiente se tornou menos favorável. Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes”, destacou o comunicado.

Poupança

O rendimento bruto da poupança subirá de 0,44% para 0,5% ao mês agora que o Copom decidiu elevar a taxa básica de juros a 9,25%. Apesar do rendimento mais alto, a poupança é uma das aplicações que trazem o menor retorno real ao investidor, ainda mais com a inflação projetada de 10,18% neste ano, segundo o Boletim Focus mais recente.

Conforme regra estabelecida pelo BC, a poupança rende 70% da Selic mais a taxa referencial (TR) quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano. Acima disso, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a TR, que está zerada. “Se pegarmos 0,5% ao mês e levarmos a valor futuro daqui a 12 meses, a poupança vai apresentar uma rentabilidade de 6,17%”, disse Rodrigo Beresca, analista de Soluções Financeiras da Ativa Investimentos.

Nos cálculos do professor de Finanças da FGV Fabio Gallo, quem depositar R$ 1 mil hoje vai ter uma rentabilidade real negativa equivalente a R$ 43,64 daqui a 12 meses, considerando a inflação estimada. “Todos os investimentos em renda fixa terão retornos reais negativos porque o Banco Central ainda está correndo atrás da curva de inflação”, disse.

Os analistas preveem um ano muito volátil para a renda variável em 2022 por causa das eleições. Além disso, a alta da inflação estará presente tanto por fatores domésticos quanto internacionais. Também não há perspectiva de melhora no câmbio. (Estadão Conteúdo e Redação)