Secretários de Guedes pedem demissão

Por Estadão Conteúdo

Funchal deixou ministério.

A revisão do teto de gastos, principal âncora da política fiscal brasileira, articulada pela tropa de choque do Centrão dentro do governo para turbinar os programas sociais nas eleições de 2022, provocou ontem o desmanche de parte da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o pedido de demissão coletiva dos seus principais secretários.

No comando da gestão das contas do governo, o secretário Especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, já estava decidido a deixar o governo após reunião na segunda-feira com o presidente Jair Bolsonaro, quando ficou clara a ruptura da política fiscal com a finalidade eleitoral.

A gota d’água foi o silêncio de Guedes diante do anúncio, feito por Bolsonaro, de um auxílio para os caminhoneiros e do atropelo das lideranças do Centrão no acordo final para mudar a emenda do teto de gastos. A mudança abriu espaço para R$ 83,6 bilhões em despesas que incluem o Auxílio Brasil, emendas parlamentares e outras medidas do programa eleitoral do presidente e do Centrão.

Sem controle do processo, Guedes não fez uma defesa contundente e pública pela manutenção do teto de gastos, criado há cinco anos e que impõe um limite anual para as despesas do governo. Pelo contrário, na noite anterior, durante uma live, o ministro falou em “licença para gastar” ou na própria revisão do teto.

Os ministros da ala política do governo aproveitaram a fala do ministro para acelerar a guinada da política fiscal e ruptura do teto de gastos ao longo do dia, sem consulta à equipe econômica.

O secretário do Tesouro, Jeferson Bittencourt, e mais dois secretários-adjuntos, Gildenora Dantas e Rafael Araújo, acompanharam Funchal nesse terceiro movimento de debandada desde que Guedes montou o que foi chamado, no início do governo, de “dream team” do seu superministério da Economia.

Pouco antes do anúncio da demissão, Funchal reuniu sua equipe e avisou que não havia mais condições de continuar no cargo. “Foi uma questão de princípio”, disse Funchal à equipe. Ao longo das últimas semanas, ele vinha repetindo essa frase para quem perguntasse se ficaria no cargo caso o Auxílio Brasil fosse feito com recursos fora do teto de gastos.

Poucos minutos depois, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), um dos principais líderes do Centrão, foi ao Twitter afiançar que os cargos teriam reposição com “técnicos igualmente qualificados”.

Reações

O clima na ala fiscalista do Ministério da Economia é de temor com o efeito dominó da queda do teto de gastos para o futuro das contas públicas com a perspectiva de mais anos de rombos. A promessa de entregar as contas no azul em 2022, depois de quase uma década de déficit, será difícil de ser cumprida, resumiu um técnico.

Já a ala política do governo, controlada pelo Centrão, procurou minimizar a saída dos quatro secretários. Dois ministros disseram ao Estadão que Guedes não deixará o cargo e que a saída de funcionários do “terceiro e quarto escalões” da Economia não ocorreria se o presidente Bolsonaro estivesse eleitoralmente forte. (Estadão Conteúdo)