Governo dá alerta de emergência hídrica

A situação é classificada como "severa" e a previsão é de pouco volume de chuvas entre junho e setembro

Por Estadão Conteúdo e Redação

Volume de água está menor no rio Paraná, como no trecho de Foz de Iguaçu.

O governo publicou ontem um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados brasileiros: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. Todas as unidades da federação atingidas estão na bacia do rio Paraná, polo de produção agropecuária e de grandes hidrelétricas. Na região, a situação é classificada como “severa” e a previsão é de pouco volume de chuvas para o período.

É o primeiro alerta dessa natureza em 111 anos de serviços meteorológicos do País. A medida corrobora as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, de que o Brasil enfrenta a maior crise hídrica dos últimos tempos.

O documento foi divulgado de forma conjunta pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), órgãos federais ligados à meteorologia, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). As instituições reforçam que a emergência hídrica é associada à escassez de precipitação na região hidrográfica e a previsão de que o cenário persista até setembro

O governo reconheceu a importância de flexibilizar restrições hidráulicas em usinas localizadas nas bacias dos rios Grande e Paraná. Serão adotadas medidas para “segurar” água nos reservatórios das hidrelétricas, evitando que seja liberado um volume usado, por exemplo, para assegurar a navegação em rios e garantir água potável para a população de alguns municípios onde a força dos rios que deságuam no mar evita o retorno da água salgada.

A decisão foi anunciada na noite da quinta-feira, após reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), presidido pelo Ministério de Minas e Energia. No encontro, o colegiado foi informado da situação hidrológica crítica vivenciada na bacia do rio Paraná, onde estão localizadas usinas hidrelétricas com os principais reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN).

De acordo com o SNM, o déficit de precipitação na bacia do Paraná está provavelmente relacionado à influência de dois fenômenos atmosféricos de grande escala. O primeiro é La Niña, de outubro de 2020 a março de 2021. O fenômeno traz resfriamento das águas do Oceano Pacífico, diminui a temperatura da superfície do mar, altera o padrão de circulação global e, entre as características do período, reduziu chuvas no Sul do Brasil.

O segundo é a Oscilação Antártica (OA), responsável por alterar o padrão de pressão atmosférica na região. Desde outubro de 2020 a OA tem atuado para impedir que sistemas causadores de chuvas se desloquem sobre as regiões continentais da América do Sul.

A situação de escassez hídrica, no entanto, é anterior. Segundo levantamento feito pelos órgãos a partir da análise de chuvas entre outubro de 2019 e abril de 2021 na bacia do Paraná, apenas em dezembro de 2019, agosto de 2020 e janeiro de 2021 as precipitações ficaram acima da média. “Durante a maior parte do período houve predomínio de poucas chuvas, principalmente a partir de fevereiro de 2021.

Setor elétrico faz pente-fino em térmicas

Com o volume escasso de água nos principais reservatórios do País, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu fazer uma varredura em cada usina térmica instalada e em operação, para saber exatamente com o que poderá contar, a fim de afastar riscos de apagão e racionamento de energia.

Na segunda-feira, a diretoria do ONS, que é o órgão responsável por fazer a gestão diária do abastecimento elétrico nacional, disparou um documento a 40 empresas do setor elétrico que possuem usinas térmicas movidas a gás, óleo diesel, biomassa e carvão. Na lista estão empresas como Petrobras, Engie e Neoenergia, além das estatais do Grupo Eletrobras.

No documento, ao qual a reportagem do Estadão teve acesso, o ONS pede que, até a próxima segunda-feira, dia 31, cada empresa informe detalhadamente, quais são as usinas térmicas que cada empresa possui, com detalhamento semanal ou diário de seus cronogramas de manutenção e operação previstos até dezembro de 2021.

No último período chuvoso, iniciado no fim de novembro e encerrado em abril, as águas podem ter caído em bom volume sobre muitos centros urbanos, mas não é isso o que se viu nas principais cabeceiras de rios do País. Se há ocorrência de água abundante nessas áreas, todo o sistema hidrelétrico passa a ser irrigado. Quando as chuvas nessas localidades não ocorrem, porém, as usinas rio abaixo ficam prejudicadas.

No documento enviado às empresas, o ONS alerta que, considerando o potencial de geração de energia hidrelétrica acumulado entre setembro de 2020 e maio deste ano, esta “configurou-se como a pior condição hidrológica” de todo o histórico de vazões em 91 anos de medição (1931/2021).

Segurança

A necessidade de o País recorrer às suas usinas térmicas para garantir o abastecimento elétrico deve-se à possibilidade de garantir um volume específico de geração, diferentemente do que acontece com as demais fontes do País.

Usinas hidrelétricas, eólicas e solares dependem, fundamentalmente, de condições naturais para gerar energia. Se não há água, vento e sol, não tem geração.

Sabesp afasta risco de falta de água

O alerta de seca prevista até setembro não afeta, no momento, de forma generalizada o abastecimento de água potável no Estado de São Paulo. Há problemas, no entanto, em alguns municípios do Noroeste e Nordeste paulista, mas, segundo a Sabesp, companhia responsável pelo abastecimento de água no Estado, são casos pontuais. (Estadão Conteúdo e Redação)