Ex-diretor da Aneel diz que vai ser difícil substituir Enel

Governos federal, estadual e municipal se uniram para pedir a retirada da concessão

Por Cruzeiro do Sul

"Em São Paulo, faltam só 30 meses. Ninguém compra para ficar dois anos", diz especialista Edvaldo Santana

Diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entre 2005 e 2013, o engenheiro Edvaldo Santana afirma que a troca da Enel por outra empresa não resolverá a crise em São Paulo se o contrato não for alterado. “O problema não é a empresa, é o modelo de concessão. O próximo apagão já está contratado”, diz em entrevista ao Estadão.

Após o blecaute do dia 10, que deixou cerca de 2,3 milhões de imóveis no escuro, a pressão para romper o contrato com a Enel cresceu. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), cobraram o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que inicialmente apontou “disputa política” nas críticas públicas. Com a escalada da crise, ele mudou o discurso.

Os governos federal, estadual e municipal se uniram para pedira retirada da concessão das mãos da multinacional italiana. O processo é conduzido pela Aneel, a quem cabe analisar a situação, avaliar a defesa da empresa e recomendar ou não a caducidade da concessão.

O processo não é imediato e analistas do setor acreditam que haverá tentativas de resolver o impasse sem o rompimento do contrato - uma saída, por exemplo, seria a Enel vender a concessão para outra empresa.

Após o anúncio do início do processo de caducidade, a Enel disse cumprir todos os indicadores previstos no contrato e ter avanços consistentes na oferta do serviço. Também afirmou confiar no sistema regulatório brasileiro.

Santana é cético quanto à efetividade do processo para retirar a Enel. Para ele, a medida não é bala de prata para resolver todos os problemas de fornecimento de eletricidade na Grande São Paulo, onde a Enel tem contrato até 2028. “Caducidade não garante que vai melhorar. Pode até piorar, especialmente no início. Você sabe como a caducidade começa, mas não como acaba”, avalia ele, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O entrave é a vigência do contrato, que vai só até 2028, o que pode diminuir o interesse de substitutas. Em Goiás, após pressão do governo estadual e Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por problemas na prestação de serviço, a Enel conseguiu vender a concessão para a Equatorial em 2022. O contrato, porém, vai até 2045. “Em São Paulo, faltam só 30 meses. Ninguém compra para ficar dois anos.” Ainda de acordo com Santana, independentemente de caducidade ou rescisão, a concessionária deverá ser indenizada por investimentos feitos no Estado.

O ex-diretor descarta como uma solução a intervenção federal sobre a Enel, o que exigiria da União assumir a operação para não haver interrupção do abastecimento. “O poder público não tem dinheiro para fazer os investimentos necessários”. (Estadão Conteúdo)