Saída dos combustíveis fósseis bloqueia a COP30

Ministros e cientistas são contra acordo que não mencionava o petróleo

Por Cruzeiro do Sul

Acordo em cúpula climática gera divergência de cientistas

A eventual saída dos combustíveis fósseis bloqueava ontem (21) o final da conferência climática da ONU (COP30) em Belém, com cerca de 30 países críticos ao esboço proposto pela presidência brasileira, ao mesmo tempo em que vieram à tona falhas de segurança um dia depois do incêndio no recinto do evento.

A COP da Amazônia viveu horas dramáticas na quinta (20), com um incêndio na zona dos pavilhões nacionais, que obrigou a evacuação da sede em meio às negociações. Cerca de 20 pessoas foram intoxicadas pela fumaça.

Após a retomada dos trabalhos, a presidência brasileira do evento apresentou um projeto de acordo no qual nem sequer é mencionada a palavra “fósseis”.

A conferência não pode acabar “sem um mapa do caminho claro, justo e equitativo para abandonar os combustíveis fósseis no mundo”, declarou, durante coletiva de imprensa, a ministra colombiana do Meio Ambiente, Irene Vélez, representando cerca de 30 países.

“O que está em cima da mesa agora é inaceitável. Isto pode acabar sem acordo, lamento dizê-lo”, disse o comissário europeu para o Clima, Wopke Hoekstra.

Um grupo de cientistas também divulgou um comunicado criticando fortemente a ausência do chamado “mapa do caminho” para o afastamento dos combustíveis fósseis no rascunho de um dos textos centrais resultantes das negociações na COP30. O grupo fala em “traição à ciência”.

O posicionamento é assinado por Carlos Nobre, do Science Panel of the Amazon; Fátima Denton, da United Nations University; Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira, Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo; Piers Forster, da University of Leeds; Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30.

“É impossível limitar o aquecimento a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento”, aponta o comunicado. Ontem era o último dia para negociação, com expectativa de postergar as tratativas para hoje (22). (AFP e Estadão Conteúdo)