Mapeamento da USP revela variantes genéticas no Brasil
Genomas incluem comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas
O mais completo estudo sobre o genoma do brasileiro confirmou que o País apresenta um dos mais altos graus de miscigenação do mundo, principalmente com ancestralidades europeias, africanas e indígenas americanas — muitas delas de grupos étnicos já extintos.
O trabalho revela também mais de oito milhões de variantes genéticas inéditas; um conhecimento valioso para o diagnóstico de doenças e o desenvolvimento de tratamentos médicos personalizados.
Publicado na edição desta semana da prestigiosa revista Science, o trabalho é liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e apresenta a maior base genética da população brasileira já organizada até hoje.
Foram analisados os genomas completos de 2.723 pessoas como parte do projeto DNA do Brasil. Os genomas incluem comunidades urbanas, rurais e ribeirinhas das cinco regiões geográficas do País.
O Brasil apresenta uma genética única, cuja origem remonta à ocupação do território no século 16, quando aproximadamente cinco milhões de colonos europeus migraram para o País.
A chegada desses grupos provocou a redução de mais de 90% da população indígena nativa e a escravização forçada de mais de cinco milhões de africanos de diferentes partes do continente para o Brasil. O trabalho mostra que a conturbada história demográfica do Brasil está registrada nos genomas da população.
“Revelamos as cicatrizes biológicas deixadas pela história da formação da população brasileira”, resume a geneticista Lygia da Veiga Pereira, da USP, uma das autoras do trabalho. “Conhecer o nosso DNA é desvendar a biologia e a história por trás da maravilhosa diversidade do brasileiro e aprender que essa diversidade é a nossa maior força”, acrescenta ela.
A pesquisa revela ainda que a maioria das linhagens do cromossomo Y (herdado dos homens) analisados no estudo era de ascendência europeia (71%), enquanto a maioria das linhagens mitocondriais (herdadas das mulheres) era africana (42%) ou indígena americana (35%). A equipe conclui que isso se deve a um padrão histórico de acasalamento assimétrico entre homens e mulheres indígenas e africanas.
Nas gerações mais recentes, contudo, o estudo detecta um padrão de “acasalamento seletivo”, que revela a tendência de a população de ter filhos dentro do mesmo grupo étnico. O conjunto desses dados genéticos revela a complexa rede social e étnica que se formou no Brasil ao longo de mais de últimos 500 anos. (Estadão Conteúdo)