Lula assistiu a desfile em Moscou ao lado de ditadores
Após viagem à Rússia, presidente brasileiro desembarcou ontem na China
Luiz Inácio Lula da Silva assistiu em Moscou, na sexta-feira (9), o desfile militar do Dia da Vitória na tribuna de honra, com uma lista de ditadores: Xi Jinping, da China, Nicolás Maduro, da Venezuela, e o cubano Miguel Díaz-Canel, entre outros líderes autoritários. O desfile marcou triunfo soviético sobre a Alemanha nazista e é tradicionalmente usado pelo Kremlin como peça de propaganda do regime.
Ontem (10), Lula desembarcou na China. Ele informou, por rede social, que está em Pequim para fechar novas parcerias e assinar acordos de cooperação em múltiplas áreas. Antes de encerrar sua viagem à Rússia, ele se reuniu com Vladimir Putin e aproveitou para criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo trecho da conversa, ele afirmou que as últimas decisões do americano “jogam por terra” a ideia do livre-comércio.
Lula foi o mais importante líder de uma democracia ocidental presente na capital russa -- a lista de convidados do Kremlin tinha 29 chefes de Estado e governo. Sua viagem foi criticada por simbolizar uma espécie de apoio diplomático tácito a Putin, um autocrata que controla a Rússia com mão de ferro, persegue opositores e invadiu um país vizinho, a Ucrânia, ignorando o direito internacional.
O editorial “Lula em Moscou: o dia da infâmia”, do jornal O Estado de S. Paulo, critica a presença do presidente brasileiro em meio a tiranos de outros países. “Ao tomar parte nas celebrações do “Dia da Vitória” em Moscou (...), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou não um triunfo diplomático ou um gesto de realismo pragmático, mas um vexame moral e um fiasco geopolítico para o Brasil. Ao lado de autocratas de todos os cantos, Lula foi aquilo que os antigos agentes secretos soviéticos chamariam de ‘idiota útil’: um ocidental deslumbrado e voluntarioso -- e descartável após servir às ambições do império russo.”
No desfile militar, como esperado, Putin usou o triunfo soviético para defender a guerra na Ucrânia. “A União Soviética tomou para si os golpes mais ferozes e impiedosos do inimigo. A verdade e a justiça estão do nosso lado. Todo o país, a sociedade e o povo apoiam a operação militar especial”, disse Putin, usando o termo preferido do Kremlin para descrever a guerra.
Ucrânia
A presença do brasileiro em Moscou irritou autoridades do governo ucraniano, que por meses tentaram levar Lula a Kiev, mas sem sucesso. A interlocução piorou nos últimos meses. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, chegou a afastar o envolvimento do Brasil em negociações diplomáticas, mas depois retomou contato com o Itamaraty nos bastidores.
A viagem à Rússia também tem potencial para desagradar muitos países ocidentais -- exceto os EUA --, que tentam um esforço conjunto para isolar a Rússia e pressionar Putin a negociar uma trégua dos combates na Ucrânia. (Da Redação, com informações de Estadão Conteúdo)