Protestos bloqueiam mais de 300 pontos em todo o País

Caminhoneiros se manifestam contra eleição de Lula; STF determina desobstrução

Por Cruzeiro do Sul

Apoiadores de Bolsonaro na Raposo Tavares, em Cotia

Horas depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, de ordenar à Polícia Rodoviária Federal (PRF) que desbloqueasse as rodovias interditadas por caminhoneiros, policiais e agentes começaram, no final da noite de ontem (31), a obrigar os manifestantes a desobstruir as vias. O movimento em protesto ao resultado das eleições de domingo (30) atingiu todos os 27 estados e o Distrito Federal, com mais de 300 pontos de interdição.

Em seu despacho, Moraes disse ser “inegável” que “a PRF não vem realizando sua tarefa constitucional e legal”. O ministro ressaltou o caráter imediato da decisão e aplicou multa de R$ 100 mil por hora para o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, a partir da 0h de hoje, em caso de não cumprimento. A decisão previa, ainda, “afastamento do Diretor-Geral das funções e a prisão em flagrante de crime”, além de citar “omissão e inércia da PRF” para resolver a situação.

Nas interdições, grupos de caminhoneiros bloquearam estradas exibindo faixas contra o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pedindo intervenção militar. Em São Paulo, um grupo de manifestantes fechou um trecho da Marginal do Tietê no sentido da rodovia Ayrton Senna, na parte da tarde. A situação mais grave até o início da noite era na BR-116, nos trechos próximos de Pindamonhangaba (Via Dutra) e Embu das Artes (rodovia Régis Bittencourt), com tráfego bloqueado nos dois sentidos.

Ontem à noite, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não havia se pronunciado sobre o resultado eleitoral. Segundo interlocutores, Bolsonaro se sente injustiçado e, por isso, ainda não havia se manifestado -- ele, porém, indicou que irá aceitar a derrota. Segundo apurou o Estadão Conteúdo, o presidente disse ter consciência de que um movimento para rejeitar o resultado poderia deflagrar fortes reações de seus apoiadores mais radicais.

A Polícia Rodoviária Federal também foi questionada pelos Ministérios Públicos Estaduais (MPEs) para garantir o tráfego nas estradas. O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, montou ontem uma força-tarefa para investigar os bloqueios em estradas estaduais e áreas urbanas do Estado.

Em nota, a PRF disse que “adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo, direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos”.

Sem consenso

Apesar da mobilização de milhares de caminhoneiros pelo País, a ação não teve consenso na categoria. Algumas das principais associações criticaram os atos, vistos como ideológicos. O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, disse que “neste momento, parar o País vai prejudicar muito a economia” e parabenizou Lula pela vitória.

Discurso semelhante foi adotado pelas confederações nacionais do Transporte (CNT), dos Transportadores Autônomos e dos Trabalhadores em Transportes e Logística, além da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) e Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC). (Da Redação, com informações de Estadão Conteúdo)