Tráfico planejou mudança na Cracolândia há um mês

Por Cruzeiro do Sul

As ruas da Cracolândia "original" agora estão vazias.

 

Imagens captadas por drones da Prefeitura de São Paulo mostram que a transferência da Cracolândia para a Praça Princesa Isabel, na madrugada de sábado (19), é resultado de uma ação planejada pelo tráfico há pelo menos um mês. Boletins internos do programa Redenção, de atendimento aos dependentes, apontaram um aumento significativo no número de barracas montadas na praça de fevereiro para cá, antes mesmo da chegada dos usuários.

O mesmo monitoramento também revela que só com a desocupação da Cracolândia original -- entre as Alamedas Helvetia e Dino Bueno -- a quantidade de pessoas na praça cresceu, o que reforça a tese de que o tráfico preparava o local. Na média, em fevereiro, a Prefeitura contabilizou menos de 80 moradores de rua fixados no local. Em 21 de março, registrou 292.

A mudança em ambos os cenários é, segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), uma resposta do crime organizado ao trabalho discreto e gradual feito pelo Município em parceria com a Polícia Civil. Desde junho de 2021, quando a Operação Caronte começou a identificar pequenos traficantes por meio de câmeras escondidas, e a Prefeitura passou a coibir a montagem de barracas na região, 92 deles foram presos.

Um relatório da operação mostra que, sem as barracas, os usuários que atuam como traficantes ficaram mais expostos, facilitando o trabalho da polícia. Já na Praça Princesa Isabel, estruturas de madeira escondem a venda de drogas e dificultam tanto a ação policial como a assistencial.

A visita do governador João Doria (PSDB) a obras do novo Hospital da Mulher, em construção na região, acelerou a transferência na madrugada de sábado após um boato sobre uma possível operação policial se espalhar entre os frequentadores da Cracolândia original.

Diferentemente do que possa parecer, a avaliação interna na Prefeitura é de que o trabalho na Cracolândia ficou agora mais difícil. Para remover as barracas da praça será preciso ação mais efetiva da polícia e chamativa do ponto de vista político -- o que Nunes quer evitar.  (Estadão Conteúdo)