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Primeiro-ministro britânico redobra ameaça de Brexit sem um acordo

30 de Julho de 2019 às 23:14

Johnson tenta um acordo diferente do firmado por Theresa May. Crédito da foto: AFP / PRU (25/03/2019)

As sucessivas ameaças do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sobre a possibilidade de o Reino Unido sair da União Europeia (UE) em 31 de outubro sem um acordo derrubaram a moeda britânica pelo quarto dia (queda de quase 3%), chegando ao menor valor em 2 anos, e aumentaram os temores de uma crise econômica após o Brexit.

Sob críticas dentro do Reino Unido, Johnson viajou para a Escócia na segunda-feira, País de Gales nesta terça-feira (30) e irá à Irlanda nesta quarta-feira (31) para buscar apoio ao seu projeto de endurecer as negociações com Bruxelas e tentar um acordo diferente do firmado por Theresa May.

Nesta terça-feira (30), Johnson voltou a afirmar que existe a possibilidade real de o país deixar a UE sem um acordo. Em conversa por telefone com o chefe de governo da Irlanda, Leo Varadkar, Johnson deixou claro seu ponto de vista de que o Reino Unido vai deixar a UE em 31 de outubro, "independentemente de um acordo ter sido fechado ou não".

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Fontes relataram a jornais britânicos que a conversa foi ríspida. Mas Johnson afirmou a seu colega irlandês que seu governo "nunca restabelecerá controles físicos na fronteira com a Irlanda após o Brexit".

A saída do Reino Unido da UE sem um acordo de separação implicaria a reintrodução de uma "fronteira física" entra a Irlanda, que faz parte da União Europeia, e a britânica Irlanda do Norte. A construção de um eventual posto de fronteira seria contrário a um dos pontos-chave do acordo de paz de Sexta-feira Santa, que pôs fim, em 1998, ao histórico conflito entre católicos, republicanos e nacionalistas, e os unionistas protestantes.

Nesta terça-feira (30), o maior partido nacionalista da Irlanda do Norte, o Sinn Fein, pediu ao governo da Irlanda que "se prepare para um processo de unificação da região britânica com a Irlanda", membro da UE, dizendo que o Brexit de Boris Johnson é uma ameaça". A líder do Sinn Fein, Mary Lou McDonald, disse a seus partidários em Belfast: "Johnson não é meu primeiro-ministro".

Na semana passada, Johnson havia afirmado que pretendia modificar os termos do acordo negociado pela ex-primeira-ministra com Bruxelas. Líderes da UE já disseram não estar dispostas a renegociar o acordo.

Johnson disse que não pretende conversar com líderes da UE enquanto eles não aceitarem abandonar o mecanismo chamado de "backstop", uma "rede de segurança" que consiste em manter uma "união aduaneira" entre a UE e a Irlanda.

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"Todos sabem onde estamos: não podemos aceitar o backstop, o atual acordo foi rejeitado três vezes no Parlamento e está morto. Mas há ampla possibilidade para fazer um novo acordo e melhor", disse Johnson antes de deixar a Escócia. "Não estamos apontando para um Brexit sem acordo. O que queremos é conseguir um acordo."

A queda da libra é um indicativo de como o mercado reagiu mal às falas do novo premiê britânico. Segundo analistas, o risco de um Brexit sem acordo é cada vez mais real, e a possibilidade de um colapso econômico também.

Neil Wilson, analista-chefe de mercado da Markets.com, disse ao Financial Times que a libra estava enfrentando "pressão implacável de venda". Para ele, "as razões por trás da queda são conhecidas, a perspectiva de uma saída não negociada da UE, e o novo governo tem deixado essa possibilidade cada vez mais perto de se tornar uma realidade."

Economistas alertaram que o declínio no valor da libra poderia elevar o custo de vida dos consumidores britânicos. Quando a libra cai, a inflação começa a subir à medida que os bens importados se tornam mais caros. Quando a libra esterlina caiu logo após o plebiscito da UE em 2016, a inflação subiu para os níveis mais altos em cinco anos, colocando pressão sobre os orçamentos domésticos e prejudicando o comércio, uma vez que os gastos de varejo desaceleraram.

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Victoria Clarke, economista do City Investec, disse ao Guardian: "Se olharmos para a queda acentuada da libra após o plebiscito sobre o Brexit, houve algumas consequências bastante consideráveis para a inflação. Foi material e apertou significativamente o caixa das famílias. Se a libra ficar nesses níveis por alguns meses, começaremos a ver uma inflação crescente. Se houver um Brexit sem acordo, isso é quase uma certeza."

O Banco da Inglaterra tem uma meta de inflação de 2% estabelecida pelo governo e, em circunstâncias normais, aumentaria as taxas de juros para manter a inflação sob controle. Mas, diante de uma desaceleração econômica global e de nenhum risco do Brexit em casa, o banco tem espaço limitado para manobras. (Estadão Conteúdo)