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Primeira caravana centro-americana completa um mês rumo aos EUA

13 de Novembro de 2018 às 17:18

Em meio ao cansaço e às doenças, milhares de migrantes continuam a marcha rumo aos EUA. Crédito da foto: Ulises Ruiz/ AFP

Sem ânimo para festejar, a primeira grande caravana migrante que deixou Honduras rumo aos Estados Unidos completa um mês, nesta terça-feira (13), de um caminho tortuoso e minado de ameaças da parte do presidente Donald Trump e ainda determinada a alcançar o sonho americano. Em meio ao cansaço e às doenças que se abatem sobre seus integrantes, os mais de 5.000 migrantes - hondurenhos em sua maioria - que persistem desde 13 de outubro na marcha que saiu de San Pedro Sula, amanheceram na mexicana Guadalajara. Foram mais de 2.000 quilômetros percorridos, a maioria a pé e com paradas em alguns trechos.

"Não celebramos absolutamente nada. Como vamos festejar que estamos sem casa, sem trabalho, cansados, doentes, sem segurança para nosso futuro?", disse à AFP Wilson Ramírez, um hondurenho de 60 anos, enquanto fazia uma longuíssima fila em espiral para sair do albergue e embarcar nos ônibus que o levarão para a próxima escala da caravana.

Para Rosa Santos, que viaja com seus três filhos, a data sequer foi notada."Aqui nem nos demos conta de que completamos um mês. Apenas pensamos em sobreviver ao dia. Hoje não tomamos café da manhã e vamos para um lugar que nem sabemos qual é", comentou.

Vontade de ferro

Em sua passagem pelo México, a caravana chegou a somar 7.000 integrantes, segundo a ONU, mas muitos desistiram pelo caminho. Os 5.049 migrantes que conseguiram chegar a Guadalajara - segundo números de autoridades locais - levam consigo, porém, uma vontade de ferro. "Se Deus quiser pra cima, nada, nem ninguém vai nos deter. Vai acontecer um milagre histórico quando chegarmos à fronteira", disse à AFP Aurelio Rojas, um hondurenho de 42 anos que viaja com a mulher e duas duas filhas de 13 e 16 anos. O filho mais velho foi assassinado em seu país durante um assalto. "É por elas que faço isso. Elas são meu combustível, e o amor que tenho por elas não acaba. Vamos chegar, porque sim", completou.

Atrás dessa grande caravana, há outras duas, com cerca de 2.000 migrantes cada. Os migrantes não reiniciaram seu trajeto a pé como nos dias anteriores. As autoridades locais dispuseram para eles dezenas de ônibus com o objetivo de levá-los até a fronteira com Nayarit, na costa do Pacífico no noroeste mexicano. "Mas esse estado não vai recebê-los para dormir, porque não há condições. Está tudo muito destruído pelo furacão Willa que castigou a zona recentemente", disse um alto comando de Defesa Civil de Jalisco, estado de Guadalajara. "Hoje farão um trajeto muito longo até o estado de Sinaloa", afirmou a fonte ouvida pela AFP, pedindo para não ser identificada por não estar autorizada para dar declarações à imprensa.

Os obstáculos de Trump

Em 9 de novembro, Trump decretou o fim dos pedidos de asilo para quem entrar ilegalmente nos Estados Unidos, uma medida que busca dissuadir os migrantes centro-americanos que avançam pelo México rumo à fronteira, escapando da pobreza e da violência em seus países. "Devo tomar medidas imediatas para proteger o interesse nacional e manter a efetividade do sistema de asilo para os solicitantes de asilo legítimos", disse o presidente republicano, que, desde sua campanha eleitoral, critica os migrantes, chamando-os de "criminosos".

Com essa medida, o governo Trump busca fazer o governo mexicano a assumir os migrantes, estipulando que o decreto perderá sua vigência, caso se chegue a um acordo que "permita os Estados Unidos expulsarem estrangeiros para o México".

Segundo o governo americano, as patrulhas fronteiriças registraram mais de 400.000 entradas ilegais em 2018. E, nos últimos cinco anos, o número de solicitantes de asilo aumentou 2.000%, transbordando o sistema, que tem mais de 700.000 casos acumulados para processar.

Trump acusa os migrantes de protagonizarem uma "invasão" e, para contê-los, determinou o envio de milhares de soldados para a fronteira sul. Em 5 de novembro, cerca de 4.800 soldados foram mobilizados (1.100 na Califórnia, 1.100 no Arizona e 2.600 no Texas), informou o Pentágono. (Yemeli Ortega - AFP)

 

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