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Atentados contra comícios políticos matam mais de 130 no Paquistão

13 de Julho de 2018 às 10:48

Dois atentados terroristas em comícios eleitorais no Paquistão deixaram um saldo de mais de 130 mortos nesta sexta-feira (13), afirmaram autoridades regionais. As eleições legislativas serão realizadas em 25 de julho em um clima cada vez mais tenso, diante do retorno do ex-premiê Nawaz Sharif ao país.

Os ataques ocorrem no momento em que o governo interino do Paquistão reprimiu aglomerações políticas com Sharif, que foi derrubado do poder pela Suprema Corte no ano passado e condenado por corrupção, em ausência, na semana passada.

Um dos ataques ocorreu em um complexo onde acontecia um comício político em Mastung, a 40 km de Quetta, capital da província do Baluquistão, no sudoeste do país, matando 128 pessoas. Trata-se do ataque mais letal no país em mais de um ano e o terceiro incidente relacionado às eleições nesta semana.

O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque, segundo a agência de notícias do grupo, Amaq.

De acordo com Aslam Tareen, chefe da Defesa Civil da província do Baluquistão, um terrorista suicida carregava de 8 kg a 10 kg de explosivos e bolas de metal.

De acordo com o ministro do Interior do Baluquistão, Agha Umar Bungalzai, o ataque visou uma reunião organizada pelo candidato à assembleia provincial Mir Siraj Raisani, que morreu.

"Ele sucumbiu aos ferimentos quando era transferido para um hospital em Quetta", indicou. Ele era candidato ao cargo de deputado pelo partido Baluchistan Awami Party (BAP).

"Meu irmão Siraj Raisani foi martirizado", afirmou Raji Lashkari Raisani, que também é candidato à assembleia provincial.

Militantes islâmicos ligados ao Taleban, à Al Qaeda e ao Estado Islâmico operam na província, que faz fronteira com o Irã e o Afeganistão. Também há uma insurgência étnica que luta contra o governo central.

Em outro ataque, uma bomba escondida em uma motocicleta explodiu perto de Bannu (noroeste) quando o comboio de outro candidato passou, matando quatro pessoas e ferindo outras quarenta, segundo a polícia.

O político visado, Akram Khan Durrani, representante de uma coalizão de partidos religiosos Muttahida Majlis-e-Amal (MMA). Durrani, aliado de Sharif, sobreviveu ao ataquye

Na terça (10), um atentado suicida reivindicado pelo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP, Movimento dos Talebans Paquistaneses) também visou um comício eleitoral do partido Awami National Party (ANP) em Peshawar (noroeste), matando 22 pessoas, incluindo Haroon Bilour, candidato à assembleia provincial.

O ANP, predominantemente secular e pashto nacionalista, compete com partidos islâmicos pelos votos nas voláteis terras pashto do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão.

Seu pai, o líder do ANP Bashir Bilour, foi morto em um ataque suicida de em 2012, antes das últimas eleições.

Peshawar, porta de entrada para turbulentas regiões tribais do Paquistão, foi cenário nos últimos anos de vários atentados contra políticos, reuniões religiosas, forças de seguranças e até escolas.

"As autoridades paquistanesas têm o dever de proteger os direitos de todos os paquistaneses durante este período eleitoral: sua segurança física e sua capacidade de expressar livremente suas opiniões políticas, independentemente de qual partido eles pertençam", reagiu Omar Waraich, vice-diretor para a Ásia do Sul para a Anistia Internacional.

O Exército paquistanês indicou no início desta semana que planejava a implementação de mais de 370 mil homens para garantir a segurança no dia das eleições.

PRISÃO 

Sharif e sua filha Maryam foram presos nesta sexta ao retornaram de Londres para enfrentar longas sentenças de prisão, em uma jogada arriscada para aumentar as chances de seu partido antes das eleições de 25 de julho.

Sharif foi sentenciado a 10 anos de prisão e sua filha, a sete, por não terem provado que o dinheiro usado para comprar apartamentos de luxo em Londres nos anos 1990 não era fruto de corrupção.

Homens uniformizados escoltaram os Sharifs, que foram julgados em ausência por acusações de corrupção na semana passada, depois que eles chegaram ao aeroporto de Lahore.

O retorno deles pode balançar as eleições, marcadas por acusações de que o poderoso Exército paquistanês está trabalhando por trás das cenas para influenciar o pleito em favor do ex-jogador de críquete Imran Khan, que descreve Sharif como um "criminoso".

Uma marcha reuniu cerca de 40 mil pessoas, liderada pelo irmão de Sharif, Shehbaz, pela cidade de Lahore, desafiando a proibição local de aglomerações públicas.

"Que credibilidade essas eleições podem ter quando o governo está tomando ações tão drásticas contra o nosso povo e essa repressão está acontecendo em todo país?", afirmou Sharif no aeroporto de Abu Dhabi, antes de embarcar para o Paquistão.

O terceiro maior movimento político do país, o Partido do Povo do Paquistão, também se somou às críticas, com seu candidato a premiê, Bilawal Bhutto Zardari questionando por que os apoiadores de Sharif não podiam se reunir.

"Por que Lahore está sob sítio? O direito a protestos pacíficos é fundamental em uma democracia", afirmou Bhutto Zardari, filho da primeira-ministra Benazir Bhutto, que foi assassinada em um comício em 2007.