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Argentina muda presidente do Banco Central em plena negociação com FMI

25 de Setembro de 2018 às 17:58

 

O vice-ministro da Economia, Guido Sandleris, foi nomeado para o cargo. Crédito da foto: Arquivo / AFP / Noticias Argentinas / HO

 

A Argentina mudou, nesta terça-feira (25) o presidente do seu Banco Central, um movimento inesperado quando o país negocia com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a ampliação de um empréstimo de 50 bilhões de dólares e em meio a uma greve geral. Luis Caputo, que ocupa o cargo desde junho, anunciou sua renúncia - "por motivos pessoais", de acordo com a declaração - quando o presidente Mauricio Macri está em Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU.

Em seguida, o vice-ministro da Economia, Guido Sandleris, foi nomeado em seu lugar. O economista trabalhou para o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento e conta com ampla trajetória acadêmica e uma passagem pelo FMI. "O principal objetivo do Banco Central é reduzir a inflação. Trabalharemos para recuperar a estabilidade e a previsibilidade dos preços que a economia argentina tanto necessita", afirmou Sandleris ao assumir nesta terça. Até agora, a inflação argentina acumula 24,3%, uma das mais altas do mundo.

Taxa de câmbio flutuante

O novo presidente do Banco Central é considerado próximo do ministro da Economia, Nicolás Dujovne, que de Nova York o elogiou como uma "pessoa brilhante, preparada para exercer essa posição com enorme solvência". "A Argentina manterá seu esquema de câmbio flutuante, taxas de juros positivas para vencer a inflação e estimular a poupança em pesos", disse Dujovne.

Gabriel Torres, da classificadora de risco Moody's, considerou que a renúncia "abrupta" de Caputo "aumentará a volatilidade cambial no curto prazo" e que a Argentina precisa "da confirmação dos detalhes finais do novo acordo com o FMI" para acalmar os ânimos. O Fundo disse nesta terça que espera manter a relação com o Banco Central da Argentina (BCRA), apesar da saída.

"Esperamos que nossa relação seja próxima e construtiva com o BCRA sob a liderança de Guido Sandleris", disse o porta-voz do FMI, Gerry Rice, que garantiu continuar "trabalhando intensamente com o objetivo de concluir as negociações em nível técnico em muito pouco tempo". Macri se reuniu na segunda-feira com investidores e jantou com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.

"A renúncia de Caputo deve ser analisada no contexto de negociação com o FMI. Ele defendia a necessidade de um aumento importante no montante da assistência e dos desembolsos, além de buscar maior flexibilidade para intervir no mercado cambial", avaliou Matías Carugati, economista-chefe da consultoria Management & Fit. A mudança na direção do banco levou a uma desvalorização de 2,15% da moeda, que terminou o dia cotada a 38,98 pesos por dólar. Hoje foi um dia de pouco movimento, já que os funcionários de bancos privados participam da greve geral.

No centro financeiro de Buenos Aires, apenas uma casa de câmbio está aberta, e há poucos clientes. "O dia está morto, não acontece nada", disse uma funcionária à AFP. O peso perdeu mais de 50% de seu valor apenas neste ano.

Greve geral

As grandes centrais sindicais argentinas convocaram para esta terça-feira uma greve geral de 24 horas contra as medidas de austeridade e contra o acordo com o FMI. Essa é a segunda paralisação desde o apoio financeiro, em junho, e a quarta desde que Macri assumiu, em dezembro de 2015. Sem transporte público, com as estações de trem e entradas de metrô fechadas, bem como muitas lojas sem funcionar hoje, os argentinos se mobilizaram em seus carros, e alguns, de bicicleta, pelas ruas de Buenos Aires.

Os sindicatos também pararam o tráfego aéreo, os fretes terrestres, os bancos e a administração pública, incluindo escolas, hospitais e universidades. "O governo deve entender que não vão ser os trabalhadores que vão pagar pela crise, porque não fomos nós que a geramos. Nós não enriquecemos com a especulação financeira. Não somos nós que especulamos contra o dólar, mas nós somos aqueles que estão sofrendo a brutal desvalorização das nossas condições de vida", disse a professora Erica Seiter à AFP.

Inflação e desemprego em alta

Com os índices macroeconômicos em declínio - uma retração do PIB de 2,4% para este ano e inflação projetada acima de 40% -, o humor dos argentinos está cada vez pior. O desemprego continua a subir, com 9,6% na segunda metade de 2018, e estima-se que a taxa de pobreza que será anunciada nesta semana vai romper a tendência de queda. Macri, um liberal de centro-direita, insiste em que a Argentina não pode gastar mais do que produz e prometeu zerar o déficit primário até 2019. Para isso, ele precisa que o Congresso, onde não tem a maioria, aprove o projeto de orçamento apresentado na semana passada.

A pressão dos sindicatos, que exigem reajustes salariais em linha com a inflação, é um dos principais obstáculos. "Queremos uma mesa de diálogo com empresários e governo para discutir problemas como pobreza, demissões, alimentação e aposentadoria. Fazemos uma convocação para que o Congresso não vote o orçamento", afirmou nesta terça o dirigente sindical Pablo Micheli. (Nina Negron/ AFP)