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Riad teria enviado especialistas para 'apagar' provas da morte de jornalista

05 de Novembro de 2018 às 11:02

O corpo de Khashoggi ainda não foi encontrado. Foto: Yasin Akgul / AFP

A Arábia Saudita enviou dois "faxineiros" à Turquia para "apagar" as provas do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado de seu país em Istambul no mês passado, disse uma importante autoridade turca nesta segunda-feira.

Os dois "faxineiros", um químico e um especialista em toxicologia, chegaram em Istambul em 11 de outubro, nove dias após a morte de Khashoggi que provocou indignação e manchou a imagem da Arábia Saudita, principalmente de seu príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

"Acreditamos que esses dois indivíduos foram enviados à Turquia com o único objetivo de apagar as provas do assassinato de Jamal Khashoggi antes que a polícia turca fosse autorizada a entrar nas instalações", confidenciou o funcionário, que pediu anonimato.

A fonte confirmou informações publicadas nesta segunda-feira pelo jornal turco pró-governo Sabah, que identificou o químico como Ahmed Abdulaziz Aljanobi e o especialista em toxicologia como Khaled Yahya Al Zahrani.

Segundo Sabah, a partir de 12 de outubro, o químico e o especialista em toxicologia "visitaram" regularmente o consulado por uma semana. Eles também apagaram todos os vestígios do assassinato na residência do cônsul, perto do consulado.

Os dois homens, que de acordo com Sabah vieram com uma "equipe supostamente investigativa" composta por 11 pessoas, deixaram a Turquia em 20 de outubro.

De acordo com o jornal, os investigadores turcos não tiveram acesso ao consulado ou à residência do cônsul até que o químico e o especialista em toxicologia "se livraram" do corpo e apagaram qualquer vestígio.

A polícia turca recebeu autorização para entrar e vistoriar o consulado pela primeira vez na madrugada de 15 para 16 de outubro e a residência no dia 17.

"O fato de uma equipe de faxineiros ter sido enviada da Arábia Saudita nove dias após o assassinato sugere que os líderes sauditas estavam cientes da morte de Khashoggi", considerou a autoridade turca.

Apesar dos esforços feitos pelos investigadores turcos, o corpo de Khashoggi ainda não foi encontrado.

Os filhos do jornalista solicitaram às autoridades sauditas que restituam o corpo para que a família possa respeitar o luto.

"Tudo o que queremos agora é enterrá-lo (no cemitério) Al Baqi em Medina com o resto de sua família", declarou Salah Khashoggi em entrevista ao canal americano CNN.

"Eu falei sobre isso com as autoridades sauditas e espero que aconteça em breve", acrescentou.

Khashoggi, jornalista crítico do poder em Riad que colaboraba com o Washington Post, foi morto em 2 de outubro no consulado da Arábia Saudita, em Istambul, por uma equipe enviada por Riad, uma morte que o presidente da Turquia disse que foi ordenada por "altos níveis" do governo saudita.

Após declararem, em princípio, que Khashoggi deixou o consulado pouco depois de ter entrado e, posteriormente, que morreu durante uma briga, Riad acabou tendo que reconhecer que o crime se tratou de uma "operação não autorizada".

Na semana passada, a Turquia acusou "os mais altos níveis do governo saudita", mas não o rei Salman, de ter encomendado o assassinato do jornalista, cujo corpo desmembrado teria sido dissolvido em ácido.

"Há algum tempo, algumas pessoas falam da destruição (do corpo) com ácido. É preciso que esse ponto seja esclarecido completamente", declarou nesta segunda-feira o vice-presidente turco Fuat Oktay.

A Turquia e a Arábia Saudita abriram investigações sobre o assassinato, mas uma extrema desconfiança reina entre as autoridades dos dois países. (AFP)

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