Desafio ao favorito

Sesi Votorantim enfrenta o Pinheiros hoje na final histórica do Super Paulistão Juvenil de Handebol

Por Vernihu Oswaldo

Com jogadoras de vários estados e rotina de convivência intensa, equipe chega à decisão guiada por raça, organização e amadurecimento fora das quadras

À primeira vista, o handebol pode parecer um esporte bruto: o contato físico constante e a velocidade intensa assustam. Mas é nas minúcias — nas defesas, na tática e na técnica — que se revela a beleza da modalidade. O recém-criado time do Sesi Votorantim comprova isso a cada partida, surpreendendo jogo após jogo até alcançar sua primeira final.

O time enfrenta o Pinheiros hoje (5), pela final do Super Paulistão Juvenil de Handebol Feminino, às 17h, no ginásio do Sesi de Votorantim. O jogo de volta será na próxima terça-feira (9), às 20h, no ginásio do Pinheiros, em São Paulo. Em caso de dois empates ou vitórias alternadas, a decisão vai para a prorrogação. Se o empate persistir, o título será definido em tiros livres de sete metros, mecanismo semelhante aos pênaltis do futebol.

A classificação do Sesi já é considerada histórica para o handebol votorantinense. Nas semifinais, a equipe protagonizou uma reação notável: após perder o jogo de ida em casa, reverteu o placar fora, venceu por 18 a 17 e, na prorrogação, garantiu a vaga com um apertado 5 a 4.

Na primeira fase, o Pinheiros terminou como líder e segue invicto. Já o Sesi Votorantim encerrou em terceiro lugar, atrás do Centro Olímpico. Considerado uma das principais potências do handebol paulista, o time da capital chega como favorito à decisão.

Formada em dezembro de 2024, a equipe votorantinense começou a receber suas primeiras atletas apenas nos primeiros meses de 2025. Jogadoras de diversas regiões do País compuseram o elenco, trazendo diferentes estilos e experiências.

Segundo a treinadora Hosana Bastos, hoje são 17 atletas, apenas três naturais da região. As demais vieram de Estados como Amapá, Pará, Minas Gerais e Santa Catarina. Quatro jogadoras vieram do Corinthians, que encerrou sua equipe na categoria, e uma fez a base no Guarujá antes de chegar ao Sesi. As atletas têm entre 16 e 18 anos.

As jogadoras de fora vivem em três imóveis alugados pelo clube. Hosana explica que seu trabalho vai além da quadra: envolve criar um ambiente familiar e ensinar as atletas a lidar com responsabilidade, organização e alimentação adequada.

“Elas [se referindo às atletas] se uniram por morarem aqui, por terem saído de suas cidades, por enfrentarem desafios e responsabilidades novas. Uma ajuda a outra. Aguentaram a minha chatice, minha superexigência para estarem bem cuidadas, para aprenderem a cozinhar, a manter a casa limpa e organizada. Foram superando situações que nunca tinham vivido. Há um ano, muitas ainda eram cuidadas pelos pais”, conta.

Mesmo diante do favoritismo do Pinheiros, o clima no Sesi é de otimismo. O último treino antes da final foi marcado por intensidade, com foco em defesa, ataque, velocidade e alternativas estratégicas para surpreender o adversário, especialmente na entrega e na vontade.

A goleira Vitória Pimenta Silva, 18 anos, uma das atletas vindas do Corinthians, ressalta a evolução do grupo. “Este ano tivemos uma preparação constante desde o início. É um time que começou do zero. Jogamos contra elas no Brasileiro e no Paulista. Acredito que temos muito potencial para fazer um bom jogo. É um time complicado, mas podemos mandar bem.”

A técnica Hosana Bastos concorda com sua goleira e reforça o espírito da equipe. “Sabemos que elas [as adversárias] são superiores tecnicamente, mas agora é hora de decisão, de raça, de determinação. Hora de disputar cada bola. Vamos confiantes, mas com os pés no chão. Sabemos da força da outra equipe.”

O handebol é um dos esportes mais praticados nas escolas, mas com pouca tradição em ligas nacionais adultas — a liga nacional feminina só foi criada em 1997. O projeto do Sesi Votorantim, segundo Hosana, busca ampliar a presença de esportes olímpicos na unidade.

Para a final, o Sesi terá 16 atletas à disposição. Apenas Maria Eduarda, um dos destaques da equipe, está fora após cirurgia por ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho. Ela deve retornar às quadras apenas em 2026.