Fadado ao fracasso
Projeto de SAF do São Bento perde força após falta de documentos do grupo Convocados
O processo de transformação do São Bento em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) sofreu um novo revés e pode naufragar. Até ontem (1º), o grupo investidor Convocados não apresentou documentos considerados essenciais, entre eles, comprovantes de capacidade financeira para viabilizar o aporte prometido. O prazo termina hoje (2).
A ausência da documentação exigida já havia sido comunicada aos investidores na véspera da assembleia geral de sócios, realizada em 15 de novembro. Por isso, o encontro foi suspenso e não pôde prosseguir, conforme determina o estatuto. O grupo Convocados, por sua vez, se comprometeu a encaminhar o material na semana seguinte, mas, até agora, nada foi entregue.
“Amanhã [hoje] termina o prazo de exclusividade da proposta vinculante. Eles [grupo Convocados] não mandaram a documentação. É a única informação que eu tenho. Sumiu todo mundo”, relatou um conselheiro que pediu para não ser identificado. “Dia 3 [amanhã], o São Bento pode voltar a receber novas propostas. Em resumo: o barco afundou de novo.”
Com a expiração da cláusula de exclusividade — prevista justamente na proposta vinculante — o clube se vê livre, a partir desta quarta-feira, para retomar conversas com outros potenciais investidores. Internamente, dirigentes já tratam a proposta do grupo Convocados como praticamente descartada.
O Conselho Fiscal, composto por Vinícius Rostelato (presidente), Paulo Alex Pantojo (vice), Bruno Oliveira Petrucci (secretário) e Teófilo José Negrão Duarte (1º suplente), analisa a papelada desde o início de outubro e aguarda, sem sucesso, os documentos restantes. A preocupação é que mais um processo frustrado aprofunde a desconfiança da torcida e de novos investidores, num momento em que o clube tenta se reerguer financeiramente.
O grupo Convocados reúne profissionais com trânsito no mercado do futebol: o economista Cesar Grafietti, especialista em finanças do esporte; o ex-zagueiro Roque Júnior, campeão mundial com a seleção brasileira em 2002; e o empresário Rodolfo Kussarev, ligado ao setor financeiro. Eles já participaram de estudos e negociações de SAFs em outros clubes e defendem modelos de gestão que combinam rigor financeiro e modernização estrutural.
Em avaliação
O empresário Rodolfo Kussarev foi procurado, ontem à tarde, para falar sobre o assunto. Mesmo solícito, se limitou a dizer que está avaliando os próximos passos. Também disse que, ainda ontem, pediria à assessoria de imprensa do grupo Convocados para enviar uma nota sobre o assunto. No entanto, a nota não chegou até as 19h.
Negociações interrompidas
A atual crise não é um caso isolado. O São Bento já vivenciou outros dois processos de venda frustrados. Em fevereiro de 2023, o empresário Rubens Takano, proprietário do AVS Futebol SAD (Portugal), retirou sua proposta após meses de tratativas. À época, teria sido colocado sobre a mesa um investimento de cerca de R$ 40 milhões por 90% das ações do clube.
Pouco tempo depois, em março deste ano, uma nova tentativa alimentou expectativas: o Flashforward Group, que tem entre os sócios o ex-jogador Zé Roberto, apresentou uma oferta muito superior — aproximadamente R$ 130 milhões pelo mesmo percentual. O Conselho Deliberativo chegou a aprovar a proposta, mas o negócio acabou desfeito pouco depois, sem avanço às etapas finais.