Paixão por times de futebol une ainda mais pais e filhos
Em muitos lares, se apaixonar por um time de futebol e torcer junto, é ponte, lembrança, recomeço e herança, entre outras correlações
No Dia dos Pais, comemorado neste domingo, o futebol deixa de ser apenas um jogo. Em muitos lares, ele é ponte, lembrança, recomeço e herança, entre outras correlações . Torcer por Corinthians, São Paulo, Palmeiras ou Santos é, para algumas famílias, mais do que acompanhar partidas: é construir vínculos que resistem ao tempo, ao silêncio, à distância e até à ausência.
Corinthians: quando a bola aproxima
A criadora de conteúdo Nathália Caroline Simões, de 27 anos, encontrou no Corinthians uma ponte para se reconectar com o pai, Carlos Augusto Simões. “A gente sempre teve uma relação conturbada, porque éramos muito parecidos, muito explosivos. Mas o Corinthians virou nosso ponto de encontro. Quando não tínhamos assunto, uma notícia do time era suficiente pra começar uma conversa.”
Uma das lembranças mais fortes foi a primeira vez que foram juntos à Neo Química Arena. O pai, com a visão debilitada, se emocionou ao entrar no estádio de mãos dadas com a filha. “Ele sempre foi bruto, não sabia receber carinho. Mas naquele dia, o olho dele encheu de lágrimas. Quando saímos, já estava escuro, e ele segurou meu braço pra se guiar. Foi quando ele entendeu que eu estava cuidando dele.”
Após a morte do pai, há dois anos, Nathália passou a ressignificar a relação com o clube. “Quando estou com saudade, não vejo foto nem vídeo. Eu assisto o Corinthians, porque era assim que a gente se conectava. Parece que, de algum jeito, ele ainda está ali do meu lado, passando raiva, xingando, vibrando, contando as histórias dele. Pra mim, não é só futebol. É uma forma de estar perto dele.”
Santos: entre gerações, a mesma camisa
Publicitário de 46 anos, Eduardo Mauricio Villar e Pitaluga cresceu ouvindo os jogos do Santos ao lado do pai, Gentil Pitaluga Filho, no rádio de madeira nos fundos de casa. “Mesmo nos anos 90, quando o time vivia uma fase difícil, ele me ensinou a nunca desistir. Íamos juntos à Vila Belmiro, ao Morumbi, ao Pacaembu. Foi ali que tudo começou.”
As memórias com o pai são repletas de momentos únicos, como a final do Campeonato Paulista de 2006. “Aguardamos a taça chegar de helicóptero na Vila. Aquilo foi mágico. Já em 2002, na final contra o Corinthians, ficamos encharcados de chuva, abraçados o tempo todo, vibrando juntos. Nunca vou esquecer.”
Hoje, Eduardo compartilha esse legado com o filho, Giovane, nome inspirado no ídolo Giovanni, o “Messias” da Vila. “A primeira vez que levei meu filho ao estádio foi pra entrar em campo com os jogadores. Desde então, são muitas lembranças, como o gol olímpico do Neymar em Limeira. Quando vejo meu filho seguindo essa paixão, sinto que venci na vida.”
Palmeiras: amor no nome e nas arquibancadas
Técnico em flexografia, Rogério Douglas da Silva Humbert, de 37 anos, conta que seu amor pelo Palmeiras começou na infância, por influência de um tio. Agora, é ele quem repassa essa paixão aos filhos Rael, de 4 anos, e Abel, de 1, batizado em homenagem ao técnico Abel Ferreira. “Eu e minha esposa já sabíamos: se tivéssemos outro filho, ele se chamaria Abel Ferreira. O sobrenome dela é Ferreira, então casou.”
Com os filhos pequenos, o futebol virou um ponto de encontro. “O Rael é apaixonado por futebol. A brincadeira preferida dele é jogar bola. E isso me emociona, porque vejo que, de alguma forma, consegui passar essa paixão pra ele. Ver meu filho gostando do que eu amo é maravilhoso.”
Rogério ainda sonha com o dia em que levará os dois ao estádio juntos. “Já fui com o Rael, mas ainda quero ir com os dois. Acho que vai ser um momento inexplicável”, diz. Para ele, o vínculo familiar que nasceu do futebol é tão forte quanto a própria história do clube. “O futebol sempre esteve comigo, e agora está com eles também.”
São Paulo: escolha que veio pelo rádio e pela camisa
A paixão de Orlando do Carmo pelo São Paulo começou na infância, ao lado do pai, que era santista. Mesmo torcendo para outro time, era ouvindo os jogos no rádio que Orlando começou a prestar atenção no clube tricolor. “Meu pai ouvia os jogos do Santos no rádio, e sempre que saía gol no Morumbi, era do São Paulo. Eu ouvia o narrador falar ‘gol do Serginho Chulapa’ e aquilo foi me marcando.”
O sentimento se consolidou quando, ainda menino, foi com a mãe escolher camisas de futebol doadas por uma vizinha. Havia opções de vários clubes, mas a que chamou sua atenção foi a do São Paulo. “A camisa do São Paulo foi a que mais me encantou. Aí, logo depois, assisti a final do Paulista, com dois gols do Serginho. Ali fechou tudo. Foi paixão mesmo.”
Hoje, aos 52 anos, Orlando tenta transmitir esse vínculo aos filhos André e Beatriz, valorizando o futebol como ferramenta de convivência. “Assistir a um jogo junto, brincar de bola com eles... Isso aproxima, cria conversa. Eu acredito que o esporte une pai e filho. Levar os filhos para jogar bola é algo muito importante.”
Murilo Aguiar - programa de estágio