Veteranos mantêm vivos os jogos de malha em Sorocaba

Disputada com discos de metal arremessados em direção a um pino cravado em um campo retangular, a malha resiste ao tempo. Em meio ao avanço das tecnologias e ao ritmo acelerado da vida moderna, o esporte preserva a simplicidade das regras e a exigência de precisão, conquistando veteranos e oferecendo algo que vai além da competição: se manter ativo e socializar.

É o caso de Julio Mamoru Shimizu, 72 anos, que intensificou a prática há oito anos e logo percebeu os benefícios. “Eu já praticava o mallet, semelhante ao minigolfe, mas, quando fui convidado para jogar malha, comecei a me exercitar ainda mais. Faço bastante movimento, e isso me ajuda muito”, conta.

Julio é um dos 12 integrantes da equipe do Democrata Clube de Malha, sediado na Vila Santana, zona norte de Sorocaba. Ele foi apresentado ao grupo pelo presidente, Francisco Paulo Carpegiani Alcolea, que há três décadas comanda o espaço. Para Francisco, a malha é um esporte que movimenta o corpo e estimula a mente. “Para a gente, é lazer. Não vamos ficar jogados no sofá ou no celular. Já virou hábito vir aqui, fazer exercício e conversar. É muito bom”, afirma.

O Cruzeiro do Sul conversou com eles durante uma partida amistosa contra jogadores de São Roque, no início do mês. A vitória ficou com Sorocaba, que marcou mais de 50 pontos apenas na primeira parte da disputa, geralmente realizada em dois tempos.

Para Francisco, os encontros com outras cidades da região são valiosos pela troca de experiências. “A gente participa de alguns regionais e cria muitas amizades. Formamos um núcleo que vai para lá e recebe o pessoal aqui. Isso fortalece a tradição do esporte”, destaca o aposentado de 70 anos.

Com 82 anos, Felício Duran acumula mais de meio século de vivência na malha. Conheceu o jogo aos 25 e, mesmo com a correria da vida, sempre encontrou tempo para reunir amigos e lançar o disco em busca de pontos. E ele sabe como pontuar. Considerado um dos maiores arremessadores da equipe, dá dicas para iniciantes. “Tem de ter tática. Não é só jogar. É treino e cálculo de força. Se jogar de qualquer jeito, o disco perde velocidade ou passa longe do pino. Já acertei todos os arremessos em uma partida. Parece fácil, mas exige estratégia”, explica.

Assim como os colegas, Felício vê no esporte uma forma de distração e bem-estar. “O tempo passa e cada vez gosto mais. É bom de praticar em qualquer ocasião. Recomendo para todos”, afirma.

O grupo se reúne sempre às quintas-feiras e aos sábados pela manhã, na rua Jerônimo Rosa, ao lado do posto de saúde da Vila Santana.

Como jogar

Apesar de envolver técnica, a malha é simples e acessível. O jogo é disputado em um campo retangular de cerca de 15 metros, com dois pinos posicionados no centro de círculos — as áreas de pontuação. Cada equipe se posiciona atrás de um pino. Um jogador de cada time se alterna nos arremessos, tentando derrubar o pino ou posicionar a malha o mais próximo possível dele.

A pontuação funciona assim: derrubar o pino sem que a malha fique no círculo vale quatro pontos; deixar a malha dentro da área de pontuação, sem derrubar o pino, vale dois pontos; e a pontuação máxima — seis pontos — ocorre quando a malha derruba o pino e permanece dentro do círculo.

No Democrata Sorocaba, os discos são de polipropileno (um tipo de plástico). Para aumentar o deslizamento e a velocidade, os jogadores aplicam uma mistura de cera, água e creme de cabelo.

Ajuda é bem-vinda

Fundado na década de 1960, o Democrata Clube de Malha já conquistou troféus importantes, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, quando o esporte viveu seu auge no Brasil. Todos os prêmios estão expostos na sede. Com o tempo, a modalidade perdeu espaço e hoje enfrenta dificuldades para atrair novos adeptos e patrocínios.

“Temos dificuldade para conseguir apoio financeiro. Pedimos R$ 30 por jogador para manter as despesas básicas e, mesmo assim, é complicado”, lamenta Francisco. “Além disso, a nova geração está mais envolvida com tecnologia e tem pouco interesse em esportes como esse.”

Os interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone (15) 98824-1602 e procurar por Paulo Alcolea.