Esporte em sala de aula
Projeto de jiu-jítsu com aulas de inglês é iniciado em escola municipal da zona norte de Sorocaba
Em uma manhã marcada por filas ansiosas e uniformes um pouco diferentes, a Escola Municipal Duljara Fernandes de Oliveira, localizada no Jardim Santo Amaro, zona norte de Sorocaba, deu início a um projeto que mistura tatame e dicionário: aulas de jiu-jítsu com introdução ao inglês para alunos do ensino fundamental. A iniciativa une aulas da arte marcial à introdução da língua inglesa e integra o programa de educação integral da unidade de ensino, com foco na ampliação das experiências formativas.
O projeto, idealizado com apoio da Associação de Pais e Mestres (APM), foi viabilizado por meio de recursos destinados pelo vereador Ítalo Moreira (União Brasil). Na primeira fase, 40 estudantes foram contemplados após sorteio transmitido ao vivo pelas redes sociais da escola. A alta demanda — mais de 120 inscritos — exigiu o uso desse critério de seleção. As atividades são realizadas de segunda a quinta-feira e incluem uniforme (quimono), alimentação e acompanhamento gratuito.
A primeira aula do projeto foi realizada com a presença de pais e responsáveis. A programação incluiu uma apresentação prática dos professores, além da entrega dos quimonos acompanhados de um livro em inglês, com ilustrações lúdicas sobre situações no jiu-jítsu. Durante o ensino da arte marcial, os professores farão a integração com o ensino da nova língua, marcando o início de um ciclo que pretende unir esporte, educação e formação cidadã no ambiente da escola pública.
Para Alessandro de Melo, 43 anos, encarregado em uma montadora e pai da aluna Lavínia, 8, o projeto representa uma oportunidade que muitas famílias não conseguem proporcionar por conta própria. “Eu mesmo sempre tive vontade de fazer uma aula assim, mas com a correria do dia a dia, a gente acaba adiando. Para a criança, acho que vai ajudar muito na disciplina e no comportamento”, comenta.
Lavínia compartilha o entusiasmo do pai. “Quando escutei sobre a oportunidade, pedi para minha mãe me inscrever. Fiquei muito feliz de ser sorteada e já estou usando o uniforme [quimono]”, conta.
O objetivo do projeto vai além da prática esportiva. Segundo os responsáveis pelas aulas, os professores Norberto de Carvalho Nunes, o Beto, faixa preta 5º grau de jiu-jítsu, e Douglas de Oliveira, atleta profissional de kickboxing, o foco principal será o desenvolvimento comportamental dos alunos. “Vamos trabalhar o autocontrole, a disciplina, a postura. A luta em si é uma consequência. Nosso papel é preparar a criança para lidar com situações como o bullying, por exemplo, e ajudar na formação da autoestima e da responsabilidade”, explica Beto.
Douglas reforça a proposta de integração entre as modalidades. “A criança vai aprender tanto a se defender no solo, com o jiu-jítsu, quanto em pé, com o kickboxing. É um trabalho completo, que visa formar indivíduos mais conscientes”, diz.
Outro diferencial é o uso do inglês como apoio didático. Cada técnica abordada nas aulas é acompanhada de vocabulário na língua estrangeira, apresentado de forma contextualizada. A novidade surpreendeu positivamente os pais. “Achei que seria só a aula de luta. Fiquei muito contente com essa parte do inglês, porque é algo a mais para o futuro deles”, afirma Fernanda Sanches Gusmão, mãe do aluno Miguel, de 7 anos.
Ensino diferenciado
O diretor da escola, Alex Sandro Lucas dos Santos, explica que o projeto faz parte de um conjunto de ações com foco na educação integral. “Nosso objetivo é potencializar o currículo com vivências que estimulem o desenvolvimento global dos estudantes. O esporte e o inglês atendem a essa proposta. E, além disso, temos o Projeto Metaverso, que ensina matemática por meio da realidade virtual.”
Embora o Projeto Metaverso não tenha retornado ontem (4), devido a um pequeno imprevisto, ele segue em atividade desde 2022. Com a ajuda de jogos imersivos, os alunos são desafiados a aplicar os conhecimentos matemáticos aprendidos em sala para avançar nas fases. Os resultados, segundo a escola, têm sido expressivos: há registros de até 140% de aumento no desempenho dos estudantes em determinados conteúdos.
Os dois projetos foram pensados para dialogar com as necessidades pedagógicas da unidade e ampliar as oportunidades educacionais dos alunos. Segundo o diretor, a intenção é que o jiu-jítsu tenha continuidade nos próximos anos, com possíveis ampliações caso haja novas parcerias e recursos. “A lista de espera [há cerca de 80 alunos] já mostra que a aceitação da comunidade foi muito além do que imaginávamos. Agora, vamos buscar formas de atender mais famílias”, conclui Alex Sandro.