Olhos da superação
Com cegueira total e aos 86 anos, Dona Dina conquista evolução na capoeira adaptada
Para muitos, ser uma pessoa com deficiência pode significar o fim de sonhos e tarefas. Mas, na verdade, a barreira também pode se transformar em combustível para seguir em frente — e vencer, especialmente quando o esporte surge pelo caminho. Aos 86 anos, Dinorá Pires Canassa driblou não apenas as adversidades impostas pela cegueira adquirida há 15 anos, como também se encontrou na capoeira. Hoje, exibe com orgulho sua primeira corda na modalidade.
A conquista foi alcançada no fim de junho, pela Associação Brasileira de Apoio à Arte Capoeira (Abadá-Capoeira). Dona Dina recebeu a corda crua-amarela, que mistura as cores branca e amarela, representando transformação. É a primeira graduação na capoeira, entregue aos alunos durante o batizado.
Diferentemente da capoeira tradicional, a modalidade praticada por Dona Dina é adaptada. As técnicas e métodos de ensino são modificados para acomodar a ausência de visão, com foco no desenvolvimento de habilidades motoras e sensoriais por meio do toque, som e movimento. São utilizados comandos verbais e toques suaves para orientar os alunos, além de instrumentos musicais que indicam direção e ritmo do jogo.
Diagnosticada com cegueira total, Dona Dina é aluna da Associação do Amor Inclusivo (AAI) desde 2018. Além dela, outros assistidos também foram graduados na capoeira: Adriano, com deficiência auditiva e física, e Moisés, que é surdo. Segundo a AAI, as aulas e oficinas adaptadas valorizam o potencial e a autonomia de cada aluno.
A fundadora e presidente da Associação, Maria Angela Oliveira, afirma: “A graduação de Dona Dina é mais do que uma faixa na cintura, é um símbolo de que nunca é tarde para começar e aprender”.
Muito ativa
Desde que ingressou na AAI, Dona Dina sempre demonstrou interesse em participar das mais diversas atividades oferecidas pelo espaço, como teatro, dança e artesanato. “Sou muito feliz aqui. Tenho saúde, vontade e ânimo para tudo”, comenta.
Na capoeira, especificamente, ela começou em 2022. As aulas são ministradas pelo professor Rodrigo Augusto Aleixo Marques, com o apoio da vice-presidente da AAI, Helena Maria Neres Neuma de Oliveira, também capoeirista e auxiliar nos ensinamentos.