Futebol
Leila: "Não quero ter paz, eu quero o conflito’
Leila Pereira tem um aperto de mão firme. Sempre olha para o interlocutor quando está falando. Vai e vem nas histórias sem perder o fio da meada. Em um balanço, mostra-se preocupada nesses quase três meses de mandato na presidência para um período de três anos e mais três se conseguir a reeleição, como planeja. Enfrenta e promete dar um basta na gastança sem necessidade no clube, rompe com a torcida e não teme o conflito.
O momento é turbulento no Palmeiras. “A cobrança da torcida não me incomoda, não quero ter paz. Eu quero o conflito... esse é o futebol, jamais imaginei que as pessoas iam bater palmas para mim quando estivesse sentada na cadeira da presidência”, disse em entrevista ao Estadão. O rompimento com a Mancha a fez pedir de volta R$ 200 mil que havia gasto para levar torcedores uniformizados para Abu Dabi a pedido de Paulo Serdan e de outros líderes da organizada. O dinheiro foi devolvido.
O motivo, para Leila, é “ridículo”. Diz respeito à presença de seu assessor pessoal, Olivério Jr. -- acusado de ser corintiano e ter relações estreitas com o “lado de lá” -- na assessoria do Palmeiras. “É crime isso o que estão fazendo, pedindo a demissão de um colaborador por ele ser torcedor de outro time. Nunca perguntei isso para nenhum de meus colaboradores”, disse a presidente. Leila manteria Olivério no posto se não fosse o pedido dele para sair.
A presidente não vai mais ajudar os torcedores com dinheiro, passagens, ingressos ou qualquer outro tipo de auxílio, tampouco aceitará projetos da Lei Rouanet para o carnaval, como admite ter feito no passado. O rompimento, por ora, é total. “É óbvio que o dinheiro sempre foi meu. Eu escolho e faço o aporte aos projetos da Lei. Recebo 150 projetos por ano, mas escolho o da Mancha.”
Preconceito e austeridade
Leila espera estar enganada, segura as palavras para não se expressar de forma errada, mas começa a olhar de forma diferente para focos de preconceitos pelo fato de ser mulher. Diz que nunca havia sentido isso antes de se sentar na cadeira que, desde a fundação do Palmeiras, em 1914, só havia pertencido a homens. Ela não aceita isso também. “Eu começo a olhar para isso de outra forma. Mas não é a Leila que tem todo esse poder. É o cargo que ocupo.” Todas as decisões do Palmeiras passam por ela. “Sou eu que decido e não tenho medo de decidir”, diz.
Leila não é o cifrão que todos imaginavam que ela seria. Quer dar um basta aos voos fretados sem necessidade, às comissões pagas a empresários na ordem de R$ 30 milhões (a informação é dela e se refere a um jogador que “veio de graça” e não está mais no clube), enfim, da torneira aberta por onde jorram R$ 900 milhões, valor estimado da receita da temporada. Nem mesmo o mantra “cadê o camisa 9” tira a presidente do sério.
“Não haverá contratação de jogador sem o aval da presidência, do treinador e do gerente de futebol. Não vamos comprar ’jogador-aposta’, não vamos fazer contratos longos com atletas com mais de 29 anos. É um princípio meu. Não há centroavante no futebol brasileiro, há bem poucos na América do Sul e ninguém que atua na Europa quer vir para o Brasil. Então, todos terão de esperar aparecer um jogador interessante e pronto.” (Da Redação com Estadão Conteúdo)