Sorocabanos viajam ao Uruguai para ver jogo do Palmeiras

Torcedores encaram 1,8 mil quilômetros de estrada para assistir à final da Libertadores em Montevidéu

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Grupo de 30 torcedores locais integra caravana.

Uma viagem de dias dentro de um ônibus, 1.800 quilômetros de estrada, deixar família e amigos para trás e resolver a burocracia para cruzar uma fronteira. Torcedores sorocabanos do Palmeiras decidiram encarar tudo isso para ir até Montevidéu, capital do Uruguai, para ver o time jogar a final da Libertadores. O Verdão defende o título do campeonato contra o Flamengo amanhã (27), às 17h, no estádio Centenário. Quem levar o troféu garante uma vaga no Mundial de Clubes da Fifa.

Um grupo de 30 membros sorocabanos da Mancha Alviverde, a torcida organizada do Palmeiras, embarcou rumo às terras uruguaias na madrugada de ontem (25). Eles integram uma caravana de cerca de 40 ônibus, composta por torcedores de todas as partes do País. A partida ocorreu por volta das 2h, saindo da quadra da torcida em São Paulo. A previsão de chegada a Montevidéu é entre 10h e 12h de hoje (26).

Palmeirense desde a infância, o professor de artes marciais Bruno Pietro Brazil, de 26 anos, é um dos participantes dessa jornada. Influenciado pelos pais, Brazil começou a acompanhar a equipe de Abel Ferreira pela televisão. Ja as idas aos estádios tiveram início há dez anos. Desde então, acompanha sagradamente o time do coração aonde ele vai. “Todo mundo tem algum tipo de vício. Uns bebem, outros fumam. Eu não faço nada disso. O meu vício é o futebol e o Palmeiras”, brinca.

Ele já foi a diversos estados brasileiros para ver o Palestra Itália em campo e, também, duas vezes à Argentina. Para a terceira viagem internacional, começou a se planejar bem antes. Se afastar do trabalho não foi um problema, pois é autônomo. Mas a parte financeira pesou -- principalmente, devido aos valores dos ingressos. A solução foi começar a guardar dinheiro com meses de antecedência. “O ingresso está fora da realidade do povo brasileiro. O mais barato, que foi destinado para a torcida organizada, era R$ 1,1 mil, sendo que, no País, o salário mínimo é isso”, desabafa. “Eu tiver que ir para a luta, trabalhar, fazer a correria para conseguir o dinheiro”, completa.

Mesmo assim, Brazil considera que, pelo Palmeiras, o esforço valeu à pena. Para ele, o jogo será ainda mais importante, pois nunca viu pessoalmente o Verdão disputar uma final da Libertadores. “Eu não consegui acompanhar a Libertadores de 1.999, porque eu nasci em 1.995. Então, eu tinha 4 anos. E, no ano passado, chegamos na final, que foi este ano, na verdade, em janeiro, mas, por causa da pandemia, não pudemos ir ao estádio”, conta.

Agora, tão perto de realizar esse sonho, não consegue esconder a felicidade. Saudosista, também exalta a conquista do Palestra “sem cerimônia”. “A gente merece mais do que qualquer outro time estar na final, porque, depois de 20 anos, chegamos numa final de Libertadores e não podia ter torcida”, fala. Se depender da confiança dele, só há um resultado possível para o duelo: Palmeiras campeão. Segundo Brazil, o bom desempenho na temporada e o preparo da equipe paulista lhes dão boas chances de trazer a taça para casa. “Acho que o time, se entrar concentrado, e se cada um der o sangue pela vitória, a gente tem chances de ganhar, sim. Tenho certeza que o Palmeiras, se cada um jogar o que sabe, tem tudo para ganhar”, reforça.

Nem mesmo a trajetória dos adversários abala o otimismo dele. “O Flamengo tem um time bom e caro, mas não é um bicho de sete cabeças, não”, acredita. Brazil já aposta, inclusive, em um placar. “O jogo contra o Flamengo vai ser mais dinâmico. Não é jogo para um gol só, não. Tem que ser uma vitória por 2 a 0, para não sofrer muito também. Um gol no primeiro tempo e um no segundo. Está bom demais, sem fortes emoções.”

Colega de Mancha e de viagem, o motoboy Rodrigo Montagnana, de 39 anos, também está seguro de que os comandados de Abel vão brilhar. “A expectativa é a melhor possível. É vitória e vitória. Não precisa ser goleada. O importante é a vitória”. Apesar disso, reconhece a grandiosidade do embate. “É difícil, é um jogo complicado, todo mundo sabe. Vai ser um ‘jogo jogado’, dentro de campo, os 90 minutos, mas estamos indo busca a taça”, diz ele, que conversou com o jornal Cruzeiro do Sul quando já estava na estrada.“O Palmeiras está preprado. Se jogar o que sabe, como o elenco que tem, acho que a gente bate de frente, sim, com o Flamengo, sem problema nenhum”, acrescenta.

De família praticamente toda palmeirense, Montagnana já acompanhou o Verdão em todos os estados brasileiros e no Chile. “Eu resumo que o Palmeiras é a minha vida. Eu vivo por causa do Palmeiras”, destaca. Para ir ao Uruguai, pediu ao chefe o adiantamento de suas férias. Já na questão financeira, contou com o apoio dos colegas da torcida organizada. “O pessoal da Mancha de Sorocaba fez uma vaquinha, fizemos rifas, vendemos camisetas, eventos, festa do chope, churrascos, campeonato interno, com o time palmeirense da cidade. Tudo em prol da arrecadação de dinheiro, e deu certo”, comenta.

Torcida é fundamental

Para os dois torcedores, a união dessa torcida apaixonada é, justamente, o principal diferencial do Palmeiras. “A torcida é o ponto forte e o patrimônio do clube”, pontua Montagnana. Já Brazil acredita que o apoio dos presentes no estádio será essencial e contribuirá para o Verdão brilhar. "A gente vai fazer uma grande festa, uma supresa lá. Quem acompanhar o jogo pela TV vai ver”, adianta.
Conforme ambos, uma possível derrota vai causar, inevitavelmente, tristeza. Porém, jamais vai abalar a confiança e o apoio incondicional ao Palestra. “A torcida tem um lema: para mim, não importa perder ou ganhar. Se o Palmeiras joga, a torcida está lá”, enfatiza Montagnana. (Vinicius Camargo)

Caravanas partem de SP, RJ e POA

Cerca de 50 ônibus com torcedores de Flamengo e Palmeiras já saíram do Brasil, ou ainda vão sair, em direção a Montevidéu, onde vão assistir à final da Libertadores. As caravanas partem de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre -- esta última cidade pela proximidade com a capital uruguaia, cerca de 800 km.

Segundo as autoridades brasileiras, são 13 ônibus de torcedores das principais organizadas do Flamengo e 12 do Palmeiras. O restante são caravanas de torcedores comuns que fretaram ônibus para verem seu time no Uruguai. Ir por via terrestre se tornou uma alternativa mais viável diante do preço alto das passagens aéreas, encontradas por não menos que R$ 9 mil -- ida e volta.

A Buser, plataforma de intermediação de transporte rodoviário do Brasil, levou 60 torcedores à capital uruguaia, sendo 30 partindo de São Paulo e 30 do Rio. A startup organizou duas viagens na quarta, em coletivos de empresas parceiras de fretamento. A oferta se esgotou rapidamente, dada a quantidade limitada de vagas e o preço muito menor do que o praticado pelas companhias rodoviárias: R$ 80 por pessoa ida e volta.

Nos aeroportos, mesmo o de Guarulhos, há predominância de rubro-negros. Os últimos dois voos de Guarulhos para Montevidéu de quarta-feira estavam lotados de flamenguistas, que moram na capital paulista ou fizeram conexão na cidade. Alexandre Soares saiu de Teresina, no Piauí, para acompanhar mais uma final do Flamengo. “Não poderia deixar de vir. Estou junto sempre que posso”, diz o torcedor. Ele havia reservado a hospedagem no Uruguai em agosto, antes mesmo de seu time confirmar a passagem à final continental. Teve problema com a acomodação, porém, e foi obrigado a procurar outro lugar para ficar.

A viagem do médico Ronaldo Lasmar a Montevidéu é somente mais um dos périplos do fanático rubro-negro atrás de seu time. “Vi a final contra o River Plate, em Lima (no Peru) e também fui a Doha, no Catar, ver o Mundial”, conta o apaixonado torcedor, que adiantou seus compromissos para ver de perto mais uma vez Gabriel Barbosa e companhia. (Da Redação, com Estadão Conteúdo)