Barrados na Maratona de Tóquio, corredores brasileiros lidam com prejuízos

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Corredores treinam para a prova no Japão. Crédito da foto: Divulgação / Maratona de Tóquio

Corredores treinam para a prova no Japão. Crédito da foto: Divulgação / Maratona de Tóquio

O sonho de correr pela primeira vez a Maratona de Tóquio, no Japão, foi adiado para alguns brasileiros. A organização da prova, pelo temor do coronavírus, nomeado Covid-19, cancelou a inscrição de cerca de 38 mil pessoas e só permitirá a presença de 206 atletas de elite e cadeirantes na prova do dia 1º de março. Milena Teixeira, Cláudia Matsui e Minoru Fujita foram alguns dos corredores brasileiros que tiveram a participação negada de última hora.

“Na segunda-feira, logo cedo, estava tomando café da manhã e chegou uma mensagem de um amigo meu contando do cancelamento. Pensei que não era possível, pois já tinha chegado meu número de peito e um manual com instruções para retirada de kit. Falavam até sobre usar máscaras especiais que estão distribuindo lá e para usar álcool em gel o tempo todo. Tinham mandado comunicado avisando que os chineses inscritos só iriam em 2021. Mas aí entrei no site e vi a notícia”, lamentou Milena.

Aos 41 anos, ela tem como meta completar a sua coleção de seis medalhas das corridas Majors, as maratonas mais famosas do mundo: Berlim, onde correu no ano passado, Boston, Chicago, Nova York, Londres e Tóquio. “Fica a frustração porque tive uma grande sobrecarga de treinos no meu corpo, fora investimento que foi perdido aí por causa do cancelamento. Acho que agora vou tentar ir para Chicago”, contou.

Perda de dinheiro

Milena corre há 13 anos e trabalha com consultoria em sistemas fiscais. Por causa de toda essa confusão, perdeu dinheiro. “Tentei negociar com a companhia aérea, mas alegaram que só não estão fazendo voo para a China e eu iria com escala em Istambul, na Turquia. O hotel eu consegui cancelar, sem nenhuma multa. Tinha comprado ingresso para o parque da Disney, ainda não sei se vão me ressarcir”, explicou.

Sempre que possível, ela tenta unir a sua vida pessoal à paixão pelas maratonas. Pegou alguns dias de férias para, depois que corresse, pudesse conhecer um pouco o Japão. Iria encontrar uma amiga que mora lá. Mas foi forçada a mudar seus planos. “Cancelei tudo e não sei se vou ano que vem. Não me restituíram o valor da inscrição e no ano que vem teria de pagar de novo. Acho que tomaram essa atitude por causa da Olimpíada. Iria embarcar sexta-feira”, disse. A inscrição da prova custa por volta de 18 mil ienes (cerca de R$ 705).

Para Cláudia Matsui, contadora de 48 anos, esta é a última Major que falta em seu currículo. “Eu receberia minha mandala, que é o Six Star Finisher Certificate, pois já completei as outras cinco provas... Agora só conseguirei em 2021”, lamentou.

Programação

No caso de Cláudia, esta foi a segunda vez que ela teve uma maratona cancelada. Em 2012, ela disputaria a competição em Nova York, que não ocorreu por causa do furacão Sandy. “Eu e outros corredores estávamos de olho nas notícias do coronavírus. A Maratona de Hong Kong foi cancelada, outras também, já estávamos preocupados”, contou a atleta, que está em um grupo de WhatsApp com outras 50 pessoas que iriam correr em Tóquio.

Como havia treinado por quatro meses, Cláudia procurou opções de provas que serão no mesmo dia. Vai disputar a Maratona de Napa Valley, nos Estados Unidos, que também será no dia 1º de março. “Tive muita sorte porque todos os hotéis que tinha reservado tinha cancelamento grátis. Consegui remarcar minha passagem para a Califórnia. E consegui outros reembolsos. O prejuízo foi bem menor que o de muitos colegas meus”, afirmou.

Surpresa

Já o analista de sistemas Minoru Fujita, de 54 anos, foi pego de surpresa com o cancelamento da prova para quem não é atleta de elite, mas, como já havia adquirido um pacote de viagem, resolveu manter o planejamento e vai conhecer Tóquio mesmo assim. “É meio frustrante, mas vou manter a viagem. Vou até tentar dar uma olhada no percurso da prova”, disse.

Ele embarca nesta sexta-feira e ficará primeiramente quatro dias em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Chegará em Tóquio no dia 26. “A Maratona de Tóquio seria minha segunda competição Major. Já participei da Maratona de Nova York e meu objetivo é completar a coleção de seis medalhas. Estou pensando em ir para Berlim ou Chicago este ano, vamos ver. Quero tentar manter duas corridas grandes por ano.”

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A Kamel Turismo, uma agência que se especializou em levar corredores para essas grandes provas internacionais, tinha um grupo de quase 100 pessoas que passariam sete dias em Tóquio. “O pacote incluía hotel, assistência, passeio e até festa exclusiva E nós estamos reembolsando todos os clientes”, explicou Elisabet Olival, diretora geral da empresa. (Paulo Favero - Estadão Conteúdo)