Buscar no Cruzeiro

Buscar

Brasil tem pico de tráfego de internet e há dúvidas sobre infraestrutura

29 de Março de 2020 às 00:01

Brasil tem pico de tráfego de internet e há dúvidas sobre infraestrutura Operadoras podem identificar regiões com maior volume de tráfego de dados e baixar capacidade para manter serviço. Crédito da foto: Arun Sankar / Arquivo AFP (24/12/2019)

O aumento no número de pessoas que estão sem sair de casa para trabalhar e se divertir, por causa do novo coronavírus, está provocando alta no tráfego de internet do Brasil. O País bateu recorde à noite em volume de dados, com 10 terabits sendo enviados por segundo (Tb/s), segundo dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Enquanto as teles dizem que a capacidade das redes não é infinita e pedem “uso responsável” aos usuários, especialistas e entidades afirmam que o crescimento até aqui é residual e a infraestrutura está preparada para aguentar a alta na demanda.

Segundo Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de projetos especiais e desenvolvimento do NIC.br, que supervisiona a governança da internet no País, o uso de dados aumentou entre 5% e 10% ao longo do dia nas últimas duas semanas. “O pico de 10 Tb/s ocorreu num momento em que, por conta da Covid-19, mais pessoas passaram a acessar a internet para fins como trabalho remoto, estudo a distância e busca por entretenimento”, afirma. “Mas isto não deve ser visto de forma isolada, porque o crescimento recente tem sido uniforme.”

Já de acordo com Julio Sirota, gerente de infraestrutura do IX br, entidade do NIC.br responsável por criar infraestrutura para trocas de dados entre as redes das operadoras e de grandes empresas, o tráfego dos últimos dias se assemelha a de um fim de semana, com bastante demanda por streaming de vídeo.

Sirota diz que é pouco provável que o volume de tráfego venha a explodir em breve. “As pessoas não vão passar a consumir duas ou três vezes mais tráfego. Os provedores de conteúdo já pediram para aumentar a capacidade, mas as empresas se antecipam a possíveis aumento de demanda.”

A antecipação da demanda é algo feito pelas operadoras, afirma Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da fabricante de equipamentos para telecomunicação Cisco. “Com ou sem coronavírus, o tráfego de rede cresce de 20% a 30% por ano. As teles trabalham com capacidade que se antecipa à demanda de 6 a 12 meses”, diz.

Responsável por atuar na instalação e manutenção de redes de fibra óptica e antenas de 3G e 4G no País, a Associação Brasileira de Empresas de Soluções de Telecomunicações e Informática (Abeprest) afirma que a mudança até aqui é esperada. “Notamos um aumento no tráfego de dados, mas até aqui é um volume residual. Não vemos risco imediato”, diz o diretor de Relações Institucionais da entidade, Hélio Bampi.

Segundo Marrara, da Cisco, podem acontecer problemas pontuais, especialmente em bairros residenciais. “A demanda que existe em locais preparados para o tráfego, como a região da avenida Paulista, vai se diluir em outros pontos da cidade que podem não ter a mesma infraestrutura”, diz. Para ele, as operadoras têm habilidade para gerir as redes. “É possível identificar pontos que estão consumindo banda além do normal e baixar sua capacidade para garantir o uso de todos.”

No dia 20, o Sinditelebrasil, que reúne as principais operadoras do País, divulgou comunicado pedindo aos usuários “uso responsável” das redes, evitando sobrecargas. “Os recursos de rede não são infinitos”, disse a entidade, em nota. Formado por Algar Telecom, Claro, Nextel, Sercomtel, Oi, TIM e Vivo, o grupo também vai se reunir em um comitê de crise para alinhar prioridades e medidas, incluindo a conectividade de hospitais e unidades de saúde. Já a Asiet, associação que reúne operadoras latinas, reitera que a infraestrutura é capaz de suportar aumento da demanda.

Outros países

Para manter a qualidade do serviço, recomendações mais duras já foram adotadas na Europa. Na Espanha, em quarentena desde 15 de março, a Telefónica pediu para seus clientes que priorizem o uso da internet para quem trabalha ou estuda em casa durante o dia e chegou até a sugerir o uso do telefone fixo. A União Europeia também pediu a empresas de vídeos -- como Netflix, YouTube e Amazon Prime -- para que reduzissem a qualidade de suas transmissões, a fim de não sobrecarregar as redes. (Anne Warth, Circe Bonatelli, Bruno Romani e Bruno Capelas - Estadão Conteúdo)