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Tropeirismo será eternizado em mapas feitos à mão

28 de Junho de 2020 às 00:01

Tropeirismo será eternizado em mapas feitos à mão “São muitas informações e eu tenho tudo na cabeça. Por isso, serão vários mapas”, diz Francisco Stein. Crédito da foto: Cleiner Micceno / Divulgação

A rota do tropeirismo será cartografada pelas mãos do artista plástico sorocabano Francisco Stein. Reconhecido internacionalmente por confeccionar mapas totalmente artesanais, com uma técnica com caneta bico de pena e tinta em pó que desenvolveu de maneira autodidata e vem aperfeiçoando há 30 anos, Stein decidiu que era hora de se aprofundar neste importante capítulo da história do Brasil, no qual Sorocaba foi protagonista com a Feira de Muares.

Exausto diante das inúmeras dificuldades -- agravadas com a pandemia da Covid-19 -- para conseguir sobreviver somente da comercialização de seus mapas, Stein revela que pensa seriamente em abandonar a carreira artística e este, portanto, pode ser o último conjuntos de mapas que produz. “Romantizando um pouco a coisa, esse seria o meu legado”, afirma.

Para poder se debruçar totalmente na profunda pesquisa em mapas originais históricos de seu acervo pessoal e na literatura acadêmica sobre o ciclo do tropeirismo, a fim de obter o maior número de informações que serão traduzidas em representações cartográficas minuciosas presentes na coleção de pelo menos sete mapas, o artista criou uma campanha que tem como meta arrecadar R$ 82 mil, disponível na plataforma online Vakinha, no link encurtador.com.br/uJNR7. Ao final da produção dos mapas, que deve durar de seis a oito meses, o artista doará reproduções ampliadas do material a escolas e universidades públicas, prefeituras e demais entidades interessadas. “Eu sempre quis fazer um mapa do caminho das tropas. Não existe nenhum muito detalhado. A maioria é muito primário, impreciso ou fala muito superficialmente sobre o tropeirismo”, comenta.

Além das rotas e relevos, os mapas apresentarão uma série de componentes como aldeias de povos indígenas, estrada dos Incas, reduções jesuítas, registros (como eram chamados os pontos de coleta de impostos da Coroa Portuguesa) e até mesmo os caminhos do Peabiru, a mítica trilha que ligava os Andes ao litoral de São Paulo. Neste contexto, destaca o artista plástico, Sorocaba ganha relevância nacional como sede da Feira de Muares, que vendia as mulas e burros trazidos dos pampas, ao sul do Brasil, para o transporte de ouro na recém descoberta Minas Gerais. “A Feira de Muares de Sorocaba atendia à demanda de praticamente todo o Brasil, tornando a cidade ponto de referência nacional”, comenta.

Trajeto

Tropeirismo será eternizado em mapas feitos à mão Stein reproduz mapas, com caneta bico de pena e tinta em pó, há mais de 30 anos. Crédito da foto: Divulgação

Francisco Stein lembra que o tropeirismo na América Latina nasceu na cidade de Salta, onde hoje é a Argentina, que era criatório de mulas que iriam servir a exploração das minas de prata de Potosí, atual território da Bolívia, a 4.400 metros acima do nível do mar. Com o esgotamento destas minas, o excedente de muares começou a ser enviado para o Brasil. Por isso, a nova coleção de mapas de Stein será dividido em duas frentes: o Tropeirismo Brasileiro, com a rota que ligava o sul do país até Minas Gerais, com destaque para Sorocaba, com a Feira de Muares; e o Tropeirismo Andino, com foco no primeiro ciclo do transporte de cargas por mulas do continente, nos quais os animais, de matrizes importadas da Espanha, foram introduzidos por serem mais resistentes do que as lhamas e alpacas, e adaptáveis ao solo irregular das minas. “As minas Potosí começaram a ser exploradas em 1545 e já estavam bem decadentes em 1700 quando estourou [a descoberta por ouro] em 1732 nas Minas Gerais”, diz.

O artista plástico, que já confeccionou centenas de mapas antigos, contemporâneos e temáticos, assinala que o maior desafio desta empreitada será conseguir inserir todos os elementos que ajudam a dar alto grau de didatismo aos observadores sobre o ciclo tropeiro. A ideia é que o conjunto de mapas, por si só, consiga explicar não apenas a geografia, mas os aspectos econômicos, culturais e políticos deste importante ciclo de progresso econômico do país. “São muitas informações e eu tenho tudo na cabeça. Por isso, serão vários mapas”, assinala.

A história de Francisco Stein com os mapas começou há mais de 30 anos como hobby. Como professor de História, adotou o uso de mapas nas aulas para tornar o entendimento da disciplina mais ágil e dinâmico para os alunos. Aos poucos, passou a reproduzir, com o máximo de fidelidade possível, diferentes mapas de regiões, continentes, países e cidades. Há dez anos, em uma de suas exposição de parte significativa do seu trabalho disse: “Desenhar mapas equivale a testemunhar a evolução, as transformações, não apenas geofísicas, mas de toda ordem”, disse. (Felipe Shikama)

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