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Sorocabano transpõe ‘Dogville’ para o palco

20 de Novembro de 2018 às 06:30

Sorocabano transpõe ‘Dogville’ para o palco Além Mel Lisboa e Fábio Assunção,o elenco conta com Bianca Byington, Marcelo Villas Boas, Anna Toledo, Rodrigo Caetano, Gustavo Trestini, Fernanda Thurann, Thalles Cabral, Chris Couto, Blota Filho, Munir Pedrosa, Selma Egrei, Dudu Ejchel e Fernanda Couto. Crédito da foto: Divulgação

O diretor teatral sorocabano Zé Henrique de Paula é o responsável por transportar o filme “Dogville”, obra prima do dinamarquês Lars Von Trier, para o teatro. A peça homônima, que tem no elenco nomes como Mel Lisboa e Fábio Assunção estreou no último dia 5 no Rio de Janeiro, no Teatro Clara Nunes, e terá temporada em São Paulo a partir de 25 de janeiro de 2019, no Teatro Porto Seguro.

Vencedor dos prêmios Shell, APCA, Reverência, Aplauso Brasil e Arte Qualidade Brasil por diversos trabalhos do Núcleo Experimental de Teatro -- companhia que fundou ao lado da também sorocabana Fernanda Maia --, Zé Henrique assina a direção da primeira adaptação teatral brasileira de “Dogville”. Arquiteto de formação, ele conta que, ao passo que o filme flerta com a linguagem teatral, foi instigado por Felipe Lima, idealizador do espetáculo, a “fazer com que o espectador assistisse a uma peça que flertasse com a linguagem cinematográfica”. “O ponto de vista foi quase invertido”.

Além Mel Lisboa e Fábio Assunção, rostos bem conhecidos do grande público por trabalhos televisivos, o elenco conta com Bianca Byington, Marcelo Villas Boas, Anna Toledo, Rodrigo Caetano, Gustavo Trestini, Fernanda Thurann, Thalles Cabral, Chris Couto, Blota Filho, Munir Pedrosa, Selma Egrei, Dudu Ejchel e Fernanda Couto.

Com aproximadamente 1h40 de duração, a trama se passa na fictícia Dogville, uma pequena e obscura cidade situada no topo de uma cadeia montanhosa, onde residem algumas poucas famílias formadas por pessoas aparentemente bondosas e acolhedoras. A pacata rotina dos moradores do vilarejo é abalada pela chegada de Grace (Mel Lisboa), uma forasteira misteriosa que procura abrigo para se esconder de um bando de gângsteres.

Recebida por Tom Edison Jr. (Rodrigo Caetano), que, comovido pela sua situação, convence os outros moradores a acolhe-la na cidade, Grace, apesar de afirmar nunca ter trabalhado na vida, decide oferecer seus serviços para as famílias de Dogville em agradecimento pela sua generosidade. Porém, no decorrer da trama, um jogo perverso se instaura entre os moradores da cidade e a bela forasteira. Quanto mais ela se doa e expõe a sua fragilidade e a sua bondade, mais os cidadãos de bem exigem e abusam dela, levando a situação a extremos inimagináveis.

Crítica mordaz ao mundo contemporâneo

Além da linguagem cinematográfica, a montagem flerta com estéticas importantes do teatro e do teatro físico, como de Tadeusz Kantor, Pina Bausch e Dimitris Papaioannou. “A ideia é explorar a secura do texto, a aridez da cidade e a precariedade dos personagens de forma a trazer isso também para o corpo dos atores e os elementos de encenação”, acrescenta o diretor.

Sorocabano transpõe ‘Dogville’ para o palco Zé Henrique de Paula. Crédito da foto: Luiz Setti / Arquivo JCS

O cenário de Bruno Anselmo (indicado ao Shell por 1984) é descrito por Zé Henrique como uma “sucessão de telas”, algumas mais translúcidas, outras mais sólidas, algumas verticais e outras colocadas na horizontal. Nelas, há projeções e videomapping de elementos simbólicos, de texto propriamente dito, de cenas gravadas e de cenas filmadas ao vivo durante a peça. Considerado pela BBC um dos melhores filmes do século 21, o longa-metragem de Lars Von Trier, lançado em 2003, foi estrelado por Nicole Kidman, Paul Bettany, Patricia Clarkson, Udo Kier, James Caan, Philip Baker Hall, John Hurt, entre outros. O título ganhou o Prêmio do Cinema Europeu e o Robert Award e foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

A obra faz uma crítica mordaz ao mundo contemporâneo e à sociedade de consumo, por meio de uma radiografia precisa da alma humana. “São situações reais e muito próximas de nós, que colocam uma lente de aumento na alma do ser humano. É como se não acreditássemos que aquelas pessoas fossem capazes de explorar essa mulher de forma tão cruel. O filme discute questões muito atuais como a xenofobia, a intolerância e põe em cheque a máxima do sistema capitalista onde, para se obter lucros exorbitantes, é preciso explorar ao máximo o outro, por vezes de formas desumanas”, revela o produtor e idealizador da peça Felipe Lima.

Para Fábio Assunção, “Dogville é uma cidade onde não há esperança”. “Em Dogville, é o caos total. É a perversidade escorada na fragilidade do outro. No Brasil, contudo, ainda há esperança: lutamos por uma política na qual acreditamos, tentamos valorizar o ser humano. E há vários lugares, várias cidades no Brasil; hoje, algumas são Dogvilles - outras são Hairs; é muito grande, o Brasil, para comprarmos peça e realidade, como se fosse apenas isso”, diz. (Da redação, com informações de Estadão Conteúdo)

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