Sorocabana se descobre poetisa depois dos 70 anos

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Rita Rosalina Pires Caos, vulgo “Cássia Amaral”, em ação num sarau literário. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

Rita Rosalina Pires Caos, conhecida como “Cássia Amaral”, em ação num sarau literário. Crédito da foto: Arquivo Pessoal

A professora sorocabana Rita Rosalina Pires Caos, atualmente com 81 anos de idade, já estava aposentada em 2010 quando tomou coragem de enviar um poema de sua autoria para o concurso literário “Depoesia”, promovido pelo escritor, sociólogo e agitador cultural Armando Oliveira Lima em parceria com a Academia Sorocabana de Letras. Sob o pseudônimo Cássia Amaral, ela conquistou o primeiro lugar no certame com o poema “Amor Perfeito”, que descreve a relação simbiótica entre uma flor e um beija-flor.

Em retribuição ao reconhecimento por seu talento, Rita se assumiu poetisa e passou a frequentar saraus literários da cidade. O premiado poema, que ela faz questão de declamar de cor com entusiasmo ao repórter, em entrevista concedida por telefone, é um dos mais de 400 já escritos pela artista, que se prepara para lançar sua primeira antologia em formato físico. “A ideia é publicar para doar, para presentear os amigos”, revela.

Para disseminar a sua obra a um público mais abrangente, Rita também fincou bandeira no mundo virtual onde, pelas redes sociais, interage com leitores e poetas de todos os cantos. Com o nome “Cassiamaral”, ela assina seus escritos no site Recanto das Letras, uma das mais importantes plataforma colaborativa voltada à poesia do Brasil. “Comecei a escrever sobre o amor e não parei mais”, afirma. Por este motivo, aliás, ganhou do poeta e amigo Dado Carvalho a antonomásia de “Poetisa do amor”.

Na vida real, antes das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de Covid-19, a poetisa era presença assídua em tradicionais saraus literários da cidade, como o do Cantinho Girassol, no bairro Wanel Ville, e do Espaço Du-Arts, no Jardim Maria Eugênia. Também fez parte do extinto grupo Coesão Poética e, atualmente, integra o grupo Poetarte. “Sinto muita falta dos encontros e dos amigos. Eu não vejo a hora de tomar a vacina e poder voltar para os saraus”, comenta Rita. Moradora da Vila Hortência há mais de 60 anos, ela destaca que, por causa da quarentena, mantém o contato com os amigos poetas por meio de reuniões virtuais.

Rita tem cinco filhos, nove netos e oito bisnetos. Diz que sente apreço pela poesia desde criança, quando aprendeu a brincar de rimar as palavras com as madres do Colégio Santa Escolástica. No entanto, só se assumiu poetisa há pouco mais de dez anos, deixando ouvir a voz do coração. “Meu marido (falecido em 2015) não queria que eu saísse para ir aos saraus literários e ele era de um tempo em que a mulher só saia de casa acompanhada. Mas eu bati o pé e disse que se ele não quisesse, que fosse junto. Depois disso, ele se acostumou”, lembra.

Seu processo criativo, detalha, é resultado do equilíbrio entre a intuição e a razão. “Eu não sou capaz de começar um poema e não terminar. Eu começo e as ideias vão vindo. Depois paro e faço algumas as correções, mas sempre procuro rimar e respeitar a métrica e a cadência, que torna a poesia mais bonita, como eram as de antigamente”, comenta.

Além de declamar seus poemas, Rita também se destaca nos saraus por apresentar performances artísticas, com direito a fantasias e figurinos inusitados. Um de seus números mais pedidos é a esquete cômica inspirada na Irmã Selma, personagem criado pelo ator Octávio Mendes nas temporadas do espetáculo “Terça Insana”. “Eu me chamo Rita e meu pseudônimo é Cássia, mas deveria ser Aparecida, porque eu gosto mesmo de aparecer”, brinca. Os poemas de Rita, sob o pseudônimo Cassiamaral, podem ser conferidos no site “Recanto das Letras”, no link https://cutt.ly/1kkLl6V. (Felipe Shikama)