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Sorocaba vira capital do maracatu feminino

28 de Novembro de 2018 às 21:31

Sorocaba vira capital do maracatu feminino Encontro reunirá mais de 150 batuqueiras de diferentes regiões do Brasil. Crédito da foto: Ismaela Correia / Divulgação

De hoje, quinta-feira (29), até domingo, Sorocaba será a capital mundial do maracatu feminino. A cidade foi escolhida para sediar o 3º Encontro Nacional Baque Mulher, promovido pelo Sesc Sorocaba, que deve reunir mais de 150 batuqueiras de diferentes regiões do Brasil para uma imersão de quatro dias, com oficinas e vivências de maracatu de baque virado e roda de conversa sobre questões ligadas à resistência e o empoderamento feminino.

O encontro também celebra os dez anos do grupo “matriz”, fundado pela Mestra Joana Cavalcante na comunidade do Bode, em Recife (PE), e que hoje conta com 38 “filiais” em 11 estados brasileiros -- uma delas em Sorocaba. A programação integra o especial “Iorubrá: protagonismo negro”, realizado pelo Sesc Sorocaba em novembro, Mês da Consciência Negra e todas as atividades são gratuitas e livre para todos os públicos.

A programação tem início hoje, às 19h, no teatro da unidade, com a roda de conversa “O protagonismo da mulher e seu empoderamento na sociedade atual”, que discutirá os impactos do feminismo no Brasil em diferentes contextos sociais, as conquistas do movimento feminista e lutas por direitos. Participam da roda de conversa a mestra Joana Cavalcante, fundadora do Baque Mulher; Eliane Dias, advogada e produtora do Boogie Naipe; Mãe Ofá; Iya Neide Ribeiro e Renata Oliveira, do Centro Cultural Orunmilá. A mediação será da pedagoga Mariana Bianchi. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na Central de Atendimento da unidade (rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade).

Amanhã, das 18h às 20h, acontece ensaio aberto Baque Mulher, com todas as integrantes e participantes das oficinas, coordenado por Mestra Joana Cavalcante com o auxílio de Iyabá Tenily Guian, Mariana Bianch e demais batuqueiras do Baque Mulher Recife. A atividade gratuita acontece no campo de grama sintética da unidade e as vagas são limitadas.

No sábado (1º), às 17h, na área de convivência da unidade, será ministrada a Oficina de Dança Yorubana com as irmãs Danielle, Ana Paula e Renata Oliveira, coreógrafas do Afoxé Omó Orunmilá, de Ribeirão Preto. Já no domingo (2), também às 17h, o evento será finalizado com a apresentação do show “Baque Mulher 10 anos”. Na apresentação, o Baque Mulher comemora 10 anos de existência com um repertório especial com as loas (canções) que mais representam esses anos de lutas e conquistas desse movimento de mulheres.

Além da música, projeto trabalha a temática do empoderamento feminino

Sorocaba vira capital do maracatu feminino Joana Cavalcante é fundadora do Baque Mulher. Crédito da foto: Divulgação

O Baque Mulher é um grupo de maracatu formado exclusivamente por mulheres e foi fundado Joana Cavalcante, 39 anos, mestra da Nação do Maracatu Encanto do Pina. Nascida em uma família de batuqueiros de maracatu, em 2008, ela conta, se tornou a primeira mestra de uma nação de maracatu do Brasil, indicada pelos búzios, por escolha dos Orixás, dando início ao grande movimento de mulheres envolvidas nesta cultura que mescla ritmo, dança e ritual de sincretismo religioso de matriz africana. “No inicio foi bem dolorido. Houve uma pressão gritante dos batuqueiros homens, porque, até então, a mulher não podia tocar instrumentos. Muitos saíram porque não aceitaram ser regidos por uma mulher. Então, tive que reiniciar do zero, tempo, com muita luta frente à toda opressão e dificuldade”, comenta, em entrevista ao Mais Cruzeiro.

Desde então, mais do que um grupo voltado à prática musical, o Baque Mulher se tornou o embrião de um coletivo voltado ao fortalecimento de discussões sobre empoderamento feminino e mobilização contra o machismo, a opressão e a violência doméstica. “Devido a essa necessidade -- que não é só de Recife, mas do país todo -- esse espaço onde as mulheres se sentem pertencentes, se escutam e têm abertura para expressar sua dor e suas dificuldades, o Baque Mulher se tornou uma rede e tem grupos em 38 cidades”, afirma.

O núcleo de Sorocaba foi fundado há três anos e, de acordo com a coordenadora local Camila Jurado, conta atualmente com cerca de 25 integrantes. Os ensaios gratuitos e abertos a todas as mulheres ocorrem às quintas-feiras, às 19h30, na sede do Momunes (rua Orestes Angelo Coló, 62 Jardim São Marcos), e quinzenalmente, aos sábados, às 16h, em espaços públicos como a praça Frei Baraúna.

Mestra Joana destaca que o Encontro Nacional propicia a troca de experiências e fortalecimento ainda maior desta rede de mulheres, por meio de bate-papo, ensaios e vivências. A escolha de Sorocaba como sede do encontro (a primeira edição, em 2016, também foi realizado na cidade) se deve ao apoio oferecido pela unidade do Sesc e por sua posição geográfica, já que o estado de São Paulo é o que concentra maior número de núcleos em todo o país. “É um evento muito importante e aguardado o ano inteiro, mas este será ainda mais especial. Primeiro, porque a celebração dos 10 anos do Baque Mulher e segundo porque ocorre em um momento político turbulento, que exige que as mulheres estejam ainda mais unidas”, conclui.

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