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Ritmo e arte de Zélia do Prato estão em oficina de percussão

25 de Agosto de 2018 às 10:27

Ritmo e arte de Zélia do Prato estão em oficina de percussão Zélia do Prato é considerada embaixadora do samba chula, manifestação cultural típica do recôncavo baiano. Crédito da foto: Fábio Rogério

O canto, a dança e a percussão com instrumentos inusitados -- como prato e talher -- herdados de seus ancestrais serão compartilhados pela sambadeira Zélia Maria de Paiva Souza em uma oficina que ocorre hoje, das 13h às 17h, em Sorocaba, na Associação Capoeira Angola Bem Brasil (rua Silva Barros, 235, na Vila Fiori). Para participar, os organizadores pedem a colaboração de R$ 30 que serão revertidos na manutenção de encontros voltado à vivência de ritmos e danças afro-brasileiras.

Considerada uma espécie de embaixadora do samba chula, manifestação cultural típica do arraial de São Braz, no município de Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, Zélia Maria de Paiva Souza é conhecida como Zélia do Prato, por sua exímia habilidade de ritmar síncopes percutindo faca em um prato de ferro esmaltado. “Faço questão de passar para mais gente conhecer essa nossa manifestação. Fico preocupada com o risco de daqui algum tempo não ter mais samba de roda. Por isso, além dessas oficinas, eu pretendo fazer um projeto de fazer samba chula mirim, lá mesmo em São Braz”.

Além de ensinar os toques (para participar da oficina é necessário levar um prato), ela mostrará aos interessados passos da dança e cantos do samba de roda tradicionais que aprendeu a avó e mãe.

“O samba chula surgiu dos escravos. Eles se reuniam para esquecer um pouco a dor e lavar a alma. Minha avó que viveu até os 100 anos, que contava essas coisas”, afirma.

Ritual

Zélia do Prato conta que, diferentemente de outras variações do samba contemporâneo, no samba chula, as sambadeiras preservam o ritual de reverência aos instrumentos musicais e seus tocadores -- uma forma simbólica de reconhecer o poder da música como uma força transcendental. “A música tem esse poder de ligar as pessoas ao divino e a matriz africana não tem essa divisão do que é sagrado e do que é profano. Samba, capoeira e candomblé são elos de uma mesma corrente”, comenta.

Além de canções tradicionais aprendidas por sua mãe, que também a ensinou o ofício de mariscadora, Zélia apresentará músicas contemporâneas, incluindo a do grupo Samba Chula de São Braz, da qual faz parte. Referência do gênero, o grupo já participou de uma série de palestras e oficinas realizadas em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Apesar de estar ligada às tradições de sua comunidade desde a infância, mestra Zélia assinala que sua carreira artística foi iniciada tardiamente, por volta dos 50 anos, depois de ter criado os filhos e netos. “Eu amo demais essa tradição. O samba me curou da depressão”, revela.

A oficina, excepcionalmente realizada no sábado em virtude da agenda de Zélia, faz parte do projeto Domingueira da Bem Brasil, criado há um ano pela Associação Cultural Capoeira de Angola Bem Brasil, com intuito de valorizar a ancestralidade e difundir a tradição da cultura de matriz africana. As domingueiras ocorrem sempre no terceiro domingo de cada mês e já recebeu a presença de mestres capoeiristas, escritores, pesquisadores e músicos. (Felipe Shikama)