Piano de Amaro Freitas enaltece suas origens no Sesc Sorocaba
Amaro Freitas tem colecionado críticas elogiosas pela capacidade de unir ritmos da cultura tradicional do Nordeste com o piano jazz. Crédito da foto: Helder Tavares / Divulgação
Apontado pela crítica especializada como uma das grandes revelações do jazz mundial desta década, o pianista pernambucano Amaro Freitas se apresenta amanhã, com seu trio, às 20h, no teatro do Sesc Sorocaba. O concerto tem entrada gratuita e os ingressos serão distribuídos no local com uma hora de antecedência na Central de Atendimento da unidade.
Acompanhado de Jean Elton (baixo acústico) e Hugo Medeiros (bateria), Amaro Freitas apresentará temas instrumentais de sua autoria que fazem parte do álbum “Rasif”, lançado ano passado, cujo título remete à palavra árabe que deu origem ao nome de Recife, cidade natal de Amaro -- mais especificamente o bairro periférico de Nova Descoberta, na região noroeste da cidade.
Não seria exagero chamar “Rasif” de carta de amor para seu nordeste natal, no qual Amaro explora seus ritmos tradicionais através do idioma do jazz, empregando complexos recursos que lembram algumas das obras mais desafiadoras de compositores brasileiros como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Moacir Santos. O disco, lançado pelo selo inglês Far Out Recordings, sucede “Sangue negro” (2016), que alçou o pianista entre as grandes revelações do jazz mundial.
Virtuose das teclas aos 27 anos de idade, Freitas tem colecionado críticas elogiosas ao redor do mundo por sua capacidade inventiva de conectar, com naturalidade, a linguagem dos ritmos da cultura tradicional do Nordeste, como o frevo, o baião, o maracatu, a ciranda e o maxixe com a vanguarda do piano jazz, influenciado por nomes contemporâneos como Brad Mehldau, Keith Jarret e Chick Corea. O músico ainda é herdeiro cultural de mestres pernambucanos como Capiba, expoente do frevo, e o guitarrista e compositor Heraldo do Monte, ex-integrante do lendário Quarteto Novo, juntamente com o alagoano Hermeto Pascoal, grupo pioneiro na fusão da música regional com a liberdade de improvisação do jazz.
A apresentação de amanhã integra a programação do Especial Iorubrá, projeto que acontece no Sesc Sorocaba durante todo o mês de novembro e que, neste ano, pauta o protagonismo, a resistência e a representatividade negra em diferentes manifestações artísticas, incluindo a música instrumental.
Tradições
Para Amaro, o espírito de sua cidade natal é profundo em “Rasif”, já que as tradições pernambucanas, como e o maracatu afro-brasileiro nascido nas plantações açucareiras da escravidão, aos ritmos carnavalescos do frevo são tão influentes quanto a linguagem jazzística de ícones norte-americanos John Coltrane, Charlie Parker e Thelonius Monk.
No show de amanhã, Amaro Freitas tocará acompanhado de Jean Elton (baixo acústico) e Hugo Medeiros (bateria). Crédito da foto: Helder Tavares / Divulgação
Amaro conta que começou a tocar piano na igreja aos 12 anos, sob as instruções de seu pai, líder da banda. Mais tarde, ganhou um lugar no Conservatório Pernambucano de Música, mas teve que desistir, pois sua família não podia poupar dinheiro para a passagem de ônibus. Sem se intimidar, Amaro participou de bandas em casamentos e trabalhou em um call center para conseguir financiar suas mensalidades. O momento transformador chegou aos 15 anos, quando teve acesso a um DVD do show do pianista Chick Corea. “Ele me deixou completamente louco, eu nunca tinha visto nada assim, mas sabia que era isso que queria fazer com um piano”, lembra.
Apesar de não possuir um piano, Amaro se dedicou estudando dia e noite -- praticava com teclas imaginárias em seu quarto, até chegar a um acordo com um restaurante local para praticar antes do horário de funcionamento. Aos 22 anos, Amaro já era um dos músicos mais procurados de Recife e pianista residente no bar de jazz Mingus.
Foi durante esse período que ele conheceu e começou a colaborar com o baixista Jean Elton e o baterista Hugo Medeiros, que já excursionaram por renomadas casas de jazz e festivais da Europa. “Quero mostrar a simplicidade da música, quebrar o estigma de que o piano é para uma classe social específica. Sim, é um instrumento difícil, ao qual muitas pessoas não têm acesso, mas com ele você pode expressar tudo”, afirma o artista.
O Sesc Sorocaba fica na rua Barão de Piratininga, 555, no Jardim Faculdade. (Felipe Shikama)
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