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Parceiro inseparável em tempos de quarentena

07 de Fevereiro de 2021 às 00:01

Parceiro inseparável em tempos de quarentena O sorocabano Fabio Gouvea gravou o álbum na Suíça, onde mora atualmente por causa de um mestrado. Crédito da foto: Daniel Somaroo / Divulgação

Em meio ao cenário de isolamento, silêncio e reflexão imposto pela pandemia do novo coronavírus, o violão se mostrou, como sempre, parceiro inseparável na vida do compositor e instrumentista sorocabano Fabio Gouvea.

Vivendo com a esposa desde 2019 na Basileia, na Suíça, onde faz mestrado em pedagogia musical com ênfase em jazz, o músico acaba de lançar “Zeit”, seu sétimo álbum solo -- e o primeiro dedicado inteiramente ao violão.

Com 17 faixas autorais -- três delas regravações de músicas já lançadas com outras formações --, “Zeit” foi gravado em maio de 2020 no estúdio do campus da Musik Akademie Basel, e também conta com composições feitas em solo suíço, como “Quarentine”. Em algumas delas, Gouvea enfatiza as melodias com vocalizes, sem tirar o protagonismo da sonoridade viva e intimista do violão com cordas de nylon.

O músico sorocabano assinala que o violão foi seu primeiro instrumento musical e, nos últimos 30 anos, moldou toda a sua vida musical. “Através deste instrumento, comecei a mergulhar naquele mar, e quanto mais fundo vou, mais misteriosa e deslumbrante fica a música”, escreveu Gouvea no encarte do disco, que tem ilustrações assinadas pelo artista visual Felipe Lopes.

Gouvea admite que, com o passar dos anos, outros instrumentos -- principalmente a guitarra elétrica -- se tornaram muito importantes na sua forma de expressar, mas o violão sempre ocupou um lugar especial, já que segue sendo uma espécie de base para as músicas que compõe. “De certa forma, é uma homenagem a esse instrumento, que foi meu primeiro instrumento e é tão popular no nosso país e tem uma escola muito forte”, assinala, citando referências como Dilermando Reis, Garoto, Yamandu Costa, Alessandro Penezzi e Guinga. “É uma escola muito rica (do violão popular) que a gente tem e é a maneira que muita gente acaba entrando no universo da música”, acrescenta.

Com seis discos de música instrumental já lançados em carreira solo -- sem contar os dos trios Curupira e Afora, dos quais também faz parte --, Fabio Gouvea defende que boa parte de suas composições foi executada com diferentes formações de banda, mas algumas delas, que nasceram do violão, “só aceitam serem interpretadas com ele, sem adaptação”, comenta.

O artista já liderou projetos com formações grandiosas, como o “Coletivo Encarnado” (2017), que é uma espécie de orquestra de câmara; e o aclamado “Decênio” (2019), que consiste em uma suíte com uma hora de duração, dividida em quatro movimentos. Fabio Gouvea admite que foi um desafio se colocar como solista empunhando o instrumento. “Mas decidi encarar o desafio, que ficou propício neste período de quarentena, em que as pessoas estão isoladas”, complementa.

Em três faixas do disco, Gouvea explora as múltiplas possibilidades do violão com os “overdubs” (como são chamadas as sobreposições de faixas de áudio), como no caso de “Barnabés”, composição que flerta com a simetria e o dodecafonismo dedicada aos irmãos e compositores Arrigo e Paulo Barnabé. O disco também traz a faixa “Hildebrand”, dedicada a Paulo Hildebrand, guitarrista e ex-professor de Gouvea.

“Zeit” (uma das primeiras palavras que Gouvea aprendeu em alemão e que significa “tempo”) está disponível em formato físico. Para comprar, basta enviar mensagem ao próprio artista, pelo email [email protected] ou pelas redes sociais (Facebook e Instagram). (Felipe Shikama)