Pianista sorocabano conquista o mundo com o poder da música
Aos 17 anos, talento precoce une disciplina, paixão e apoio familiar para brilhar nos palcos internacionais
O jovem pianista sorocabano Théo Singh, 17 anos, carrega nos dedos a paixão pelo piano. A música o levou a conquistar palcos em diversos países do mundo, entre eles Áustria, Espanha, Inglaterra, Holanda, Itália, Rússia e, claro, o Brasil. No entanto, mais do que isso, ele é a prova viva de que, com coragem, disciplina e apoio da família, é possível sonhar alto e transformar sonhos em realidade.
Desde muito pequeno, a música já fazia parte da sua história. Ele iniciou a musicalização aos 3 anos de idade, mas a escolha pelo piano veio aos 7. “Eu encontrei uma professora que me incentivou muito, porque tenho ouvido absoluto. Ela começou a me ensinar a ler partituras, a interpretar peças de música clássica e, aos poucos, surgiu o interesse por esse mundo. Também foi ela quem me inscreveu no meu primeiro concurso nacional e, depois de ganhar o primeiro prêmio, senti motivação”, conta.
Embora o entusiasmo pelos concertos seja grande, a rotina é intensa. “Tem dias em que estudo até 12 horas seguidas, principalmente quando a apresentação está próxima. Eu fico focado, sacrifico até momentos com os amigos e, às vezes, até aulas da escola para conseguir dar o meu melhor”, revela.
A preparação vai muito além dos ensaios. A cada concerto, é necessário compreender a sala onde se apresentará, sua acústica e o ambiente como um todo. Na Rússia, por exemplo, cada local tinha suas particularidades. “Meu professor, Rogério Zaghi, viajou comigo e me ajudou a ajustar a intensidade e o timbre para que o público pudesse sentir tudo o que eu queria transmitir. Isso faz toda a diferença”, explica.
Além disso, é preciso organizar o repertório com antecedência. Théo conta que seleciona uma obra de cada período: barroco (ele tocou uma peça de Bach), uma sonata do período clássico (Beethoven), uma balada romântica (Chopin), uma obra impressionista francesa (Debussy) e uma peça moderna (Villa-Lobos). O jovem também se inspira em pianistas como Daniil Trifonov, Grigory Sokolov, Nelson Freire, Ivo Pogorelich, além de compositores como Sergei Rachmaninoff, Maurice Ravel e Alexander Scriabin.
Frio em Viena
Entre os desafios enfrentados durante os concertos, um episódio específico marcou a trajetória do pianista. O frio intenso em Viena, na Áustria, quase comprometeu uma apresentação, quando ele teve apenas cinco minutos para aquecer as mãos antes de subir ao palco. “Minhas mãos estavam congeladas, e eu não toquei bem. Foi um desafio muito grande, mas depois aprendi a me preparar melhor para esse tipo de situação”, conta. Para ele, superar momentos difíceis faz parte do crescimento.
Para lidar com essas tensões, Théo conta com uma rede de apoio fundamental. “Minha família sempre foi meu alicerce. Minha mãe é psicóloga e me preparou desde cedo para lidar com a pressão e os erros. Eu também faço terapia toda semana, porque cuidar da saúde mental é tão importante quanto estudar piano”, reforça.
Apesar dos obstáculos, a paixão pelo piano e os aplausos do público fazem tudo valer a pena. Durante a recente turnê na Rússia, em que se apresentou no Festival Pianíssimo, passou por São Petersburgo, Moscou, Kaliningrado e Nizhni Novgorod, se sentindo completamente acolhido pelo público. “Foi emocionante. Fiquei mais de 40 minutos dando autógrafos em Nizhni Novgorod, recebi muito carinho. Foi o momento mais feliz da minha carreira até agora”, lembra, emocionado.
Escolas diferentes
Théo também comenta sobre as diferenças entre as escolas pianísticas russa e brasileira, e como foi se apresentar em um país culturalmente tão distinto. “A melhor escola pianística é a russa, mas é uma escola que prioriza a perfeição técnica. A escola brasileira é mais visceral, porque o brasileiro, quando toca, é muito apaixonado. Isso chama muita atenção ao redor do mundo.”
Mesmo tendo se apresentado em diversos países e recebido convites para tocar com orquestras, Théo escolheu esperar para sua primeira apresentação com a Orquestra Sinfônica de Sorocaba. “Foram dois dias com a sala cheia na Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba [Fundec], porque ele quis esperar para tocar o seu primeiro concerto aqui”, conta, orgulhosa, a mãe de Théo.
O futuro
Além das próximas apresentações, ele mantém os olhos no futuro. O jovem se considera um estudante comum do 3º ano do ensino médio, em busca de aprovação. Agora, seu foco está nos estudos e na conquista de uma bolsa em um conservatório fora do Brasil, tendo a Inglaterra como principal destino, devido à familiaridade com o idioma. “Quero estudar com um grande professor, fazer turnês, participar de concursos importantes e mostrar para o mundo o que posso fazer com o piano”, sonha.
Com uma determinação que transcende a idade e uma paixão que ilumina cada tecla que toca, esse jovem pianista mostra que sonhos grandiosos são alcançados com preparo, coragem e amor pelo que se faz. (Lavínia Carvalho - programa de estágio)