Projetos retomam memória de Elis, que se foi há 40 anos

Lançamentos devem acontecer entre o segundo semestre de 2022 e inicio de 2023

Por Cruzeiro do Sul

Documentários e história em quadrinhos serão feitos em homenagem à cantora

Três grandes projetos sobre Elis Regina, com potencial para recolocarem o nome da cantora em destaque com frescor e ineditismo, estão na esteira para serem lançados entre o segundo semestre deste ano e o começo de 2023. Uma época escolhida não por acaso. No próximo dia 19 de janeiro, quarta, serão completados 40 anos desde a morte da cantora. “Quarenta anos de morte não, de saudade de Elis”, prefere dizer seu filho, João Marcello Bôscoli.

Dois dos produtos são ligados ao audiovisual: um documentário em três episódios, a ser lançado pela HBO, vai levar o nome de “Elis por João”, com imagens de programas, shows e entrevistas que Elis concedeu para emissoras de vários países. O produtor é Marcelo Braga e direção ficou com Lea Van Steen. A progressão das cenas terá um eixo cronológico e baseado na narrativa muitas vezes emocionada de João Marcello. Imagens de Elis conseguidas por Braga a mostram em aparições nas TVs de países como Bélgica, França, Portugal, México e Alemanha.

O segundo projeto em fase de finalização, aguardado pelos fãs há anos, é também um documentário gravado pelo produtor Roberto de Oliveira durante os registros, em Los Angeles, nos Estados Unidos, do álbum “Elis & Tom”, lançado em 1974. Roberto tem um material bruto de 3h30 em vídeo e mais 4h em áudio guardados desde então. Agora, editados, eles estão prontos para surgir no longa-metragem “Elis & Tom - Só Tinha de Ser com Você”, pelo canal Arte 1. A expectativa é de que saia no segundo semestre. “Estamos na fase final, mas gostaríamos de lançar quando a pandemia estiver mais controlada para fazermos um evento presencial”, diz o produtor.

E a terceira empreitada, em uma frente inédita para os fãs da cantora, trata-se da criação do personagem Elis para história em quadrinhos, desenvolvida pelo desenhista Gustavo Duarte, 44 anos, um dos mais respeitados quadrinistas e cartunistas brasileiros, com trabalhos realizados para os estúdios internacionais Marvel e DC Comics.

Com 15 anos como chargista e desenvolvendo histórias para super-heróis fictícios, como Super-Homem e Mulher Maravilha, ele tem sua primeira experiência com um personagem real. “Isso não quer dizer que eu vá fazer uma biografia de Elis, isso já fizeram. Meu papel não será o de um biógrafo. O que vou fazer será uma fantasia biográfica.” O livro, em fase de roteirização, terá cerca de 80 páginas e virá em formato europeu, como as publicações Asterix e Tintim. O autor prevê o lançamento para este segundo semestre, ou início de 2023.

A história de Elis, diz Gustavo, não será pensada para conversar só com as crianças, apesar de serem elas o primeiro alvo. A fantasia terá como gatilhos fatos conhecidos da história. A cantora criança está em 1955 ouvindo discos na sala de sua casa, em Porto Alegre, quando recebe a visita de um pássaro falante. Elis se encanta e conta ao amigo novo que, apesar de ser uma atração conhecida no programa Clube do Guri, da Rádio Farroupilha, é apenas uma menina, e o pássaro responde: mesmo sendo Elis uma criança, sua voz já encanta milhares de pessoas.

E mais: no mundo de onde ele vem, música é o que mantém tudo em harmonia. Então, o pássaro convida Elis a conhecer este mundo e a conduz por um portal, abrindo a tampa do toca-discos. Elis, a partir daí, viaja por passagens curiosas, como a que encontra em uma esquina de Belo Horizonte um garoto negro de boina, Milton Nascimento, e se assusta quando os abutres, os militares que tomam o País com o golpe de 64, prendem uma alienígena que, na verdade, é uma cantora famosa a ser libertada pela pequena Elis: Rita Lee. “É uma história para que adultos e crianças que não saibam de Elis possam também entender que esse personagem e esse mundo fantástico existiram”, diz Gustavo.


Elis &Tom

Em 1974, Roberto de Oliveira sentiu que deveria registrar o momento histórico que iria testemunhar como produtor Depois de ajudar a costurar o encontro entre Elis e Tom Jobim em um estúdio nos Estados Unidos, onde o álbum “Elis & Tom” seria gravado para, de fato, não sair mais da História, ligou para dois brasileiros que trabalhavam com cinema por lá, Jom Tob Azulay e Fernando Duarte, e montou uma equipe para registrar os bastidores da gravação. Mas, ao contrário do que o mundo conheceu recentemente com o excepcional “Get Back”, de Peter Jackson, aquele não era um projeto voltado para as câmeras.

“O que importava ali era o álbum. Quando entrávamos no estúdio com o equipamento, tínhamos de ter muita discrição”, conta Roberto. Assim sendo, Elis, Tom e os músicos são flagrados discutindo sobre os arranjos das músicas, às vezes com alguma tensão (isso no início, quando Tom ficou ressabiado ao saber que Cesar Camargo Mariano seria o arranjador) e diversão (o que é, talvez, um dos aspectos mais saborosos do material). “Ninguém ali estava preocupado com as câmeras”, conta Roberto.

Sobre uma segunda menção, quando lembrado de que o filme de Peter Jackson mostra o parto ao vivo da música Get Back, saindo de Paul McCartney aos poucos e fazendo o espectador torcer para que ele encontre a nota que, evidentemente, logo iria encontrar, Roberto diz: “Ah, essa sensação existe por várias vezes no filme de Elis e Tom também”. Em uma delas, antes de cantarem “Chovendo na Roseira”, Tom fala para Elis algo como: “Vamos descontrair, ficar mais soltos. Não quero cantar igual ao Tom Jobim”. Uma constatação que Roberto de Oliveira pode adiantar: “Todo o disco saiu exatamente como Tom Jobim queria”. (Da Redação com Estadão Conteúdo)