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Luca Benites faz reflexões sobre o tempo no Macs

26 de Março de 2019 às 23:29

Luca Benites faz reflexões sobre o tempo Há dois anos, 298 obras, entre quadros e esculturas, foram queimadas pelo próprio artista, que passou a usar as cinzas para criar outras peças - Foto: Divulgação

Nome de destaque na arte contemporânea, Luca Benites chocou o mundo ao incinerar toda a sua produção artística, desenvolvida ao longo de quase 20 anos de trabalho. Há dois anos, suas 298 obras, entre quadros e esculturas, foram amontoadas em um terreno na Áustria e viraram combustível de uma enorme fogueira que, após sete horas, se reduziu a cerca dez litros de cinzas.

A medida radical, registrada em livro e em um documentário em vídeo, foi realizada em meio a um “processo pessoal e espiritual”, de autoconhecimento e renovação, vivenciado pelo artista, e deu origem ao projeto “Fogo”. Nele, Luca desenvolve esculturas, semelhantes a gotas e ampulhetas, carregadas das cinzas de suas próprias obras -- e que propõem reflexões em relação à passagem do tempo.

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Esse percurso de desprendimento, coragem e resiliência será compartilhado com o público pelo próprio artista que estará nesta quarta-feira (27), em Sorocaba, para um bate-papo no auditório da unidade Centro do Colégio Objetivo, às 14h30. A iniciativa é do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs), em parceria com a escola, e tem entrada gratuita.

De acordo com a presidente do Macs, Cristina Delanhesi, a intenção do evento é aproximar o artista do público, oferecendo a possibilidade da apresentação de nuances do trabalho que nem sempre são percebidas, além de uma oportunidade única de contato com o autor. “A ideia é desmistificar a arte como algo elitista e distante e, ao mesmo tempo, humanizar o trabalho artístico”, afirma.

Luca Benites faz reflexões sobre o tempo O artista criou outras obras a partir das cinzas das peças queimadas - Foto: Divulgação

Luca reconhece que, a partir da década de 1970, houve uma radicalização “na especulação em cima das obras e dos artistas”, elevando o valor de mercado da arte contemporânea no mundo a “níveis absurdos”. Indiretamente, o projeto “Fogo” faz críticas a esse movimento, que ajudou a reforçar o estereótipo de que a arte contemporânea é algo exclusivo para as elites econômicas e excludente para o restante da população.

No entanto, não foi este o estopim que o levou a incendiar, literalmente, todas as obras de seu acervo. Em vez de falar do valor dos bens materiais, “Fogo” trata de um bem muito mais precioso: o tempo. “Queimar foi a forma contundente que encontrei de pensar como usei o meu tempo nos últimos 18 anos e de questionar como estamos usando o nosso tempo”, comenta o artista, radicado em Barcelona, na Espanha.

Em 2018, Benites presenteou o Macs com uma das obras de “Fogo”, denominada “Reloj de cenizas de obras quemadas” -- uma ampulheta de vidro que contém as cinzas do material queimado em seu interior. A peça, que agora compõe o acervo do museu, está em cartaz na exposição “O tridimensional no acervo do Macs”. Simbolicamente, as cinzas que correm pela ampulheta carregam uma narrativa que conta a história do longo percurso de estudo e dedicação atravessado pelo artista.

Reflexão

Além de seu processo criativo, Benites comenta que o tema central do bate-papo de hoje será justamente a reflexão sobre como as pessoas estão usando seu tempo e valorizar cada segundo que resta. “É tempo de ter tempo”, diz. Para ele, as pinturas e esculturas não foram destruídas e sim transformadas. “Uma nova materialização da minha obra”, diz.

Luca Benites faz reflexões sobre o tempo Luca Benites vive em Barcelona, na Espanha - Foto: Divulgação

Arquiteto de formação, pela Faculdade de Arquitetura da Universidade ORT, no Uruguai, e um dos 14 artistas internacionais com trabalhos expostos no reconhecido Centro de Arte Contemporânea Piramidón, em Barcelona, Luca Benites afirma que sua obra pré-fogo era fundamentalmente marcada pelo tom político, que trazia reflexões de problemas “de macro escala em nível urbano” como crescimento desordenado, especulação imobiliária e gentrificação. “Era uma escala muito macro, as pouco eficiente. Agora é micro, introspectiva e mais eficiente”, complementa.

Luca Benites revela que, até o momento de incendiar seus quadros, não tinha clara a ideia de reaproveitar as cinzas em novas obras que, assim como o tempo, na vida, são finitas. Ele admite que a decisão de incinerar boa parte do seu patrimônio material -- e sua única fonte de receita -- foi cercada por medo e insegurança. “Na vida devemos ser contundentes e consequentes, o medo do fracasso nos paralisa, mas o fracasso é uma etapa que nos torna seres humanos melhores”, afirma. “Depois de sete horas, quando a fogueira apagou, eu senti a plenitude do vazio”, complementa.

As vagas para o bate-papo são limitadas e as inscrições devem ser feitas antecipadamente pelo e-mail [email protected].

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