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Exposição no Sesc Sorocaba resgata o legado de Vkhutemas

08 de Outubro de 2019 às 07:10

Exposição no Sesc resgata o legado de Vkhutemas A instituição universitária soviética Svomas-Vkhutemas foi um marco das artes logo após a Revolução Russa. Crédito da foto: Divulgação

A história e o legado de uma das escolas de artes e design mais importantes e influentes do século 20 é contada na exposição “Vkhutemas: o futuro em construção”, que será aberta nesta terça-feira (8), às 19h, no Sesc Sorocaba, e poderá ser vista gratuitamente até 12 de janeiro de 2020.

Com curadoria de Celso Lima e Neide Jallageas, a mostra apresenta a história, as criações e os pensamentos da instituição universitária soviética Svomas-Vkhutemas (1918-1930), considerada um marco das artes e do design enraizado no espírito da Revolução Russa de 1917.

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Um ano depois da Revolução Russa e da formação do governo provisório foi criada em Moscou a IZO (Oficina de Artes Visuais) sob a supervisão do Nakompros, departamento soviético responsável pela administração da educação pública. Em 1918 começou, então, a funcionar uma escola de artes e design, que, fechada depois por Stalin, em 1931, serviu de modelo para outras importantes instituições fora da ex-URSS, como a alemã Bauhaus.

Após sua liquidação pelo regime stalinista, a Vkhutemas foi reorganizada com outras instituições artísticas sob controle do Partido Comunista. Apesar de tão relevante quanto a célebre Bauhaus, da Alemanha, a produção da Vkhutemas é praticamente desconhecida no Ocidente em função do processo de inviabilização durante a Guerra Fria.

A exposição que foi aberta pela primeira vez no Sesc Pompeia, no ano passado, em meio à Copa do Mundo da Rússia, e já itinerou por Rio Preto, reúne peças têxteis, objetos de cerâmica, réplicas arquitetônicas, além de itens em madeira e metal. Os trabalhos expostos são recriações de projetos de arte e design de artistas soviéticos que lecionaram na escola e que estão entre os maiores artistas experimentais da vanguarda soviética de um século atrás.

“A exposição se afasta de uma proposta museológica, ou seja, da apresentação de obras originais. Nossa intenção era realizar um resgate histórico da Vkhutemas, com a reconstrução material dos acervos, e promover uma discussão ampla sobre as pedagogias e os processos da escola, que revolucionaram as artes e o design modernos e até hoje reverberam nas mesas de criação por todo o mundo”, explica Celso Lima, pesquisador da história do design e curador da mostra.

Num esforço monumental de artistas brasileiros convocados pela dupla de curadores, foram reproduzidos projetos desenvolvidos na Vkhutemas nos anos 1920, entre maquetes arquitetônicas de Lidia Komárova, tecidos desenhados por Popova, cartazes elaborados por Ródtchenko (para filmes de Eisenstein, entre outros), trajes e figurinos de Stepánova, peças de porcelanas criadas por Maliévich e seus alunos e até uma réplica com mais de dois metros de altura da torre de Tátlin, de 1919, concebida como um monumento maior que o Empire State Building, mas nunca construída.

Design em tipografia

Tátlin trabalhou pouco com os construtivistas, até mesmo porque as formas orgânicas eram a plataforma de seu projeto de design. No construtivismo, a ênfase na geometria e na técnica que substituiria o “estilo”, herança burguesa, fez de duplas como Ródtchenko e o poeta Maiakóvski modelos de um método revolucionário de design em tipografia, que introduziu nada menos que a fotografia na elaboração de capas de livros e do pôster-propaganda, muito utilizado na época para promover mudanças políticas e sociais.

“A Vkhutemas, alinhada com as correntes futuristas, construtivistas e suprematistas, operava como um centro de experimentação, em que a criação artística não se desvinculava do projeto de uma nova sociedade, o que explica, por exemplo, que a escola tenha formado, nos anos 1920, mais de 30 mulheres arquitetas, como Lidia Komárova, que assinou o projeto do Komintern”, lembra a curadora Neide Jallageas.

Artes aplicadas

Exposição no Sesc resgata o legado de Vkhutemas A exposição apresenta peças têxteis, objetos de cerâmica, réplicas arquitetônicas, além de itens em madeira e metal. Crédito da foto: Divulgação

Com a mudança do regime na Rússia e a introdução de uma nova ordem ditada pela industrialização, responder aos apelos do governo para fomentar os valores comunitários fez com que o programa dos professores da Vkhutemas se voltasse para as artes aplicadas.

Ródtchenko, comunista de primeira hora e defensor da transformação do artista em técnico, tinha, evidentemente, uma noção de arte bem diferente de Kandinski, que deveria liderar uma escola semelhante, a de Inkhuk, mas acabou por não ver nenhum programa educacional seu instituído em seu país natal. Foi para a Alemanha e assumiu, em 1922, a cadeira de pintura na Bauhaus, em Weimar, a convite de seu fundador, Walter Gropius.

Ródtchenko ficou e desenhou até macacões com grandes bolsos no torso e no quadril, que poderiam ser usados indiferentemente por operários de ambos os sexos. Alguns desses trajes, com croquis de Stepánova, foram refeitos aqui no Brasil, assim como suas estamparias com motivos geométricos de caráter construtivista.

“Muitas da propostas pedagógicas da Vkhutemas chegaram a ser seguidas na Bauhaus, mas não há esse reconhecimento no mundo ocidental”, observa o curador Celso Lima, lembrando que mestres saídos da escola soviética fizeram parte do corpo docente da escola alemã, fechada pelos nazistas em 1933 sob a acusação de ser um “antro de bolcheviques”.

Programação tem atividade formativa

Como atividade formativa e integrada, Celso Lima conduzirá o curso teórico “Vkhutemas & Bauhaus”, que irá abordar a relação entre as duas escolas, desde suas origens compartilhadas de programas pedagógicos propostos por Anatóli Lunatchárski nos “Svomas”, fundados em Moscou em 1918, e a criação do “Vorkurs”, o curso introdutório da Bauhaus, por Johannes Itten na adaptação dessas propedêuticas.

A atividade ocorrerá nos dias 30 e 31, das 19h às 21h, na Sala de Oficinas. As inscrições podem ser realizadas a partir do 22 por meio do portal sescsp.org.br/sorocaba ou presencialmente na Central de Atendimento. A classificação etária é de 16 anos.

Além disso, o projeto Cinecafé deste mês é dedicado à exibição de filmes russos que revolucionaram a linguagem do cinema em âmbito mundial. Hoje, “Verão”, de Kirill Serebrennikov, será exibido às 19h, com entrada gratuita. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. Após a sessão ocorre o “Cinema em reflexão”, conduzido pela curadora Neide Jallageas. (Da Redação, com informações de Estadão Conteúdo)

Serviço

Exposição “Vkhutemas 1918-2018 -- O futuro em construção”

De terças a sextas, das 9h às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30

Entrada gratuita e livre para todos os públicos

Sesc Sorocaba (rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade)

Galeria

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