Biblioteca Infantil Municipal abre as portas ao tropeirismo

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Traias, como são chamados os equipamentos para a tropa de mulas, estão expostas na Biblioteca Infantil. Crédito da foto: Fábio Rogério

O historiador Sérgio Coelho de Oliveira ainda ministrará mais três palestras sobre a cultura tropeira. Crédito da foto: Fábio Rogério

A importância de Sorocaba no ciclo do tropeirismo é explicada com riqueza de detalhes pelo historiador Sérgio Coelho de Oliveira a um grupo de cerca de 30 pessoas, na Biblioteca Infantil Municipal, no Centro. Servidos de generosas fatias de pão doce caseiro e café fresquinho, na icônica cozinha caipira que fica nos fundos do prédio, o bate-papo, realizado na tarde da última quinta-feira, foi o primeiro de uma série de quatro encontros promovidos pelo projeto “Conversa pra boi dormir”.

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Contemplado no edital 2018 da Lei de Inventivo à Cultura de Sorocaba (Linc), da Secretaria de Cultura (Secult), o projeto “Conversa pra boi dormir” foi idealizado por Oliveira e oferece uma programação gratuita de formação cultural, que visa fomentar e divulgar a cultura tropeira na cidade. Além das rodas de conversa, que prosseguem nas próximas quintas-feiras de maio (dias 16, 23 e 30), sempre das 15h às 16h, a programação conta com oficinas de saberes tradicionais, com aulas de bordado livre, cestaria, artesanato em couro e tear manual. O projeto tem apoio do Centro de Estudos Históricos Caminhos das Tropas (Cehicat), do qual Sérgio Coelho é o fundador.

O objetivo central do projeto, segundo Oliveira, é que a população possa revisitar seu patrimônio material e, assim, enxergar o que ainda “permanece de tropeiro em nós”. “A proposta é trazer essa história para o presente e transformar em alguma coisa”, comenta. De acordo com o pesquisador, além das palestras, as oficinas procuram destacar as “atividades inerentes ao tropeirismo que incrementavam o movimento econômico de Sorocaba”. Produtora do projeto, Angeles Paredes Toral afirma que, ao mesmo tempo que são permeadas por contextualização histórica, as oficinas, que são gratuitas, “têm caráter de arteterapia e procuram valorizar a manualidade”, que vem perdendo espaço em detrimento do consumo de produtos industrializados.

Em sua fala, diante da atenciosa plateia, com pessoas de faixas etárias variadas, Sérgio Coelho destacou que o tropeirismo foi “um dos capítulos mais importantes da história do Brasil”, que perdurou desde o período colonial até o final do século 19. Surgiu por volta de 1730 como solução às necessidades de transporte num País continental, especialmente, no ciclo do ouro, nas Minas Gerais.

Esse vetor econômico, segundo ele, contribuiu com a ocupação e o desenvolvimento do território dos pampas (Rio Grande do Sul), onde burros e mulas eram criados e também de Sorocaba, para onde os animais eram trazidos na Feira de Muares, para serem vendidos ao restante do País. “Uma única comitiva de 12 homens trazia uma tropa chucra de 700 a 1.200 animais”, detalha Oliveira, citando que, em algumas edições mais badaladas, a Feira de Muares de Sorocaba chegou a comercializar mais de 100 mil animais. “O dinheiro do imposto [arrecadado em Sorocaba] ajudou a reconstruir Lisboa de um furacão”, detalhou.

Paulistanos radicados em Sorocaba há 15 anos, os comerciantes José Joaquim da Silva Neto e Rosa Reitano se disseram surpresos com a importância do tropeirismo para o desenvolvimento econômico no País. “A gente já tinha uma curiosidade pelo assunto, e foi uma forma de se aprofundar mais. Foi muito interessante e vamos voltar nas próximas”, comentou Rosa, que também fez aula de bordado oferecida pelo projeto.

Oficinas têm inscrições abertas

Traias, como são chamados os equipamentos para a tropa de mulas, estão expostas na Biblioteca Infantil. Crédito da foto: Fábio Rogério

Além das palestras, a programação do “conversa pra boi dormir” também reúne oficinas gratuitas.

A oficina de Bordado Livre prossegue nos dias 15 e 22 de maio, em duas turmas: das 9h às 11h e das 14h30 às 16h30. Segundo a produtora Angeles Toral, a atividade com vagas disponíveis aborda temas que remetam ao tropeirismo e que valorizem o trabalho feminino, pouco visível na cultura tropeira. “Os participantes vão aprender a fazer um pequeno bornel, que era a bolsa que o tropeiro usava para transportar seus bens mais valiosos”, detalha. A oficina é conduzida pela artesã, bordadeira e costureira e arte terapeuta Carmen Dolores Kuntz Almeida.

A oficina de Cestaria em Palha de Bananeira ocorrerá de 27 a 29 de maio, em duas turmas (das 9h às 11h e das 14h30 às 16h30), e será ministrada por Milton de Albuquerque, participante da Tropeada de Itararé a Sorocaba desde 2010.

As aulas de Trançado em Couro prosseguem nos dias 14 e 20 de maio, também em duas turmas (das 9h às 11h e das 14h30 às 16h30), com o artesão Irineu Rodrigues de Oliveira, que trabalha com couro desde os 10 anos de idade. O artesanato em couro, segundo Sérgio Coelho, era usado para a fabricação de traias, como são chamados os equipamentos para a tropa de mulas, como bruacas (bolsas para transporte) e guaiacas (cintos para carregar facas e outros objetos pessoais). Na oficina serão ensinados alguns pontos de trançados com couro, importantes para a confecção de traias e acabamento em peças de couro em geral.

Já a oficina de Tear Manual será realizada nos 17 e 24 de maio, das 9h às 11h e das 14h30 às 16h30, ministrada pela artesã Maria de Fátima Lima. Os artesanatos eram feitos de tear, quando se faziam as mantas para as mulas e para os tropeiros também, aproveitando as lãs e o algodão das fazendas. Na aula, os participantes vão confeccionar um mini-tapete.

As inscrições podem ser feitas antecipadamente, na Biblioteca Infantil (rua da Penha, 673, Centro). (Felipe Shikama)