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Antonio Adolfo Quinteto é atração neste sábado no TMTV

24 de Agosto de 2018 às 07:30

Antonio Adolfo e quinteto são atração amanhã no TMTV Repertório variado mesclará composições autorais e releituras de músicas de Tom Jobim e Ernesto Nazareth. Crédito da foto: Divulgação

Autor da canção “Sá Marina”, sucesso eternizado na voz de Wilson Simonal e um dos inventores do samba jazz, o pianista, compositor e arranjador Antonio Adolfo se apresenta com seu quinteto neste sábado (25), às 20h30, no Teatro Municipal Teotônio Vilela (avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, s/n, Alto da Boa Vista). A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos no local a partir das 19h. O show faz parte da 12ª Temporada de Música Instrumental Brasileira de Sorocaba -- Metso Cultural, produzida pela MdA International com patrocínio da empresa Metso.

Acompanhado de um time de instrumentistas renomados, Antonio Adolfo, 71 anos, mostrará um repertório variado que mescla composições autorais com releituras de músicas de Tom Jobim (“Garota de Ipanema” e “Olha Maria”) e Ernesto Nazareth (“Odeon”) e de standards do jazz.

O show do músico carioca ocorre 40 anos após sua última passagem por Sorocaba. Adolfo conta que, em 1978, rodou o Brasil divulgando o LP “Feito em casa”, lançado no ano anterior “Eu fui a Sorocaba e dei entrevista a rádios e jornais. Me lembro que visitei a redação do Cruzeiro do Sul”, conta. Até hoje, o referido disco é considerado um marco histórico na música independente brasileira.

Conforme revela o título, foi produzido em casa, de maneira artesanal, após o pianista se cansar de ouvir negativas dos diretores artísticos das grandes gravadoras.

No show de amanhã, Adolfo dividirá o palco com um quinteto de músicos que acompanham grandes estrelas da música brasileira como Chico Buarque, Maria Betânia, Rosa Passos, Djavan, Hamilton de Holanda, entre outros, formado por Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (contrabaixo acústico), Marcio Bahia (bateria) e Marcelo Martins (saxes e flauta). Além de músicas marcantes de sua carreira -- e indispensáveis e nos seus shows, como “Teletema”, “BR 3” e, claro “Sá Marina” --, Adolfo mostrará versões tropicais, com arranjos abrasileirados, sobre standards jazz como “All the things you are”; de Jerome Kern; “So in love”, de Cole Porter e “Beauty and the beast”, de Wayne Shorter.

Aliás, nove temas dessa lenda viva do saxofone foram recentemente regravados por Antonio Adolfo no álbum “Hybrido -- from Rio to Wayne Shorter”. Lançado no ano passado e aclamado pela crítica especializada, o disco foi indicado ao Grammy 2018 na categoria Melhor Álbum de Jazz Latino e 18º Grammy Latino na mesma categoria.

Influência mútua

Adolfo comenta que o tributo é um agradecimento à influência da concepção da música moderna recebida de Shorter e, também, uma homenagem à forte ligação do norte-americano com a música brasileira. “Ele é muito ligado ao Brasil. Tanto que é casado com uma brasileira e gravou em 1974 o ‘Native dancer’ com o Milton Nascimento”, comenta o pianista ao Mais Cruzeiro.

Em “Hybrido”, o jazz valseado “Footprints” foi transformado em guarânia. “Deluge” tem condução de samba e “Speak no evil”, faixa-título de antológico álbum de 1964, se transforma em gafieira. “Além de grande saxofonista, o Wayne é um grande compositor. Eu quis tocar as músicas dele de um jeito mais tropical, brasileiro. Ao trazer a música dele para mim a coisa muda, vira uma parceria”, complementa.

O título do disco, cuja grafia o torna o inteligível tanto em português quanto inglês, é uma espécie de ponte de mão dupla que liga a liberdade criativa do jazz norte-americano com a riqueza ritmica de vários cantos do Brasil. “Acho que na música muita gente aqui se sente colonizado pelos americanos, mas a influência é mútua. No meu caso, eu mando de volta para eles”, afirma.

Frevo bebop

Com boas chances de repetir o mesmo sucesso de “Hybrido”, Antonio Adolfo acaba de lançar seu novo álbum, intitulado “Encontros”, acompanhado da Orquestra Atlântica, formada em 2012 no Rio de Janeiro para evocar o som das big-bands de jazz. Lançado em formato físico no mês passado na Europa e nos Estados Unidos e disponível por aqui nas principais plataformas de serviço de straming, o álbum traz novos arranjos para suas músicas feitas em parceria com Tibério Gaspar (1943 -2017), incluindo “Sá Marina”, e “Milestone”, clássico de Miles Davis tocado ao passo de frevo. “É um bebop alucinado que, com a Orquestra Atlântica, em frevo casou muito bem”, comenta.

Beco das garrafas

Personagem histórico da música brasileira, Adolfo figura na lista dos criadores do samba jazz ou sambalanço, ao lado dos cariocas Sérgio Mendes, Luiz Eça e Walter Wanderlei e dos paulistas do Zimbo Trio.

O gênero musical que mescla as sincopes da música brasileira com a livre improvisação do jazz nasceu em meados da década de 1960 em Copacabana, no “Beco das Garrafas”, apelido atribuído à travessa de que abrigava um conjunto de casas noturnas frequentadas por músicos como Baden Powell e cantoras como Elis Regina.

No “Beco”, em 1963, Antonio Adolfo fez a estreia de seu trio, 3-D, ao lado do baixista Cacho Pomar e o baterista Nelson Serra. “Nessa mesma época eu já tocava com o Carlos Lyra e o Vinícius de Moraes. O nosso primeiro show foi acompanhando a cantora Lenny Andrade e o trombonista Raul de Souza”, recorda.

Adolfo comenta que, apesar da paternidade da improvisação instrumental ser atribuída aos jazzistas norte-americanos, diversos músicos cariocas do choro, antes mesmo do “Beco das Garrafas”, já se expressavam livremente, desenvolvendo linhas melódicas em tempo real. “Os americanos deram o rótulo e ficaram com o crédito, mas o Ernesto Nazareth, o Pixinguinha, por exemplo, já faziam isso. Eram excelentes improvisadores”, comenta.

O pianista compara a música instrumental como uma língua universal, capaz de ser compreendida por instrumentistas e apreciadores em qualquer parte do mundo. “Cada um toca de um jeito e a improvisação depende criatividade e da tendência cultura lde cada intérprete. Eu sempre gostei de fazer essa coisa de trazer para o meu lado e ‘falar’ do meu jeito, com o meu sotaque”, finaliza.