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'Há pólvora no chão', diz comandante de missão humanitária em Roraima

23 de Agosto de 2018 às 21:40

roraima Imigrante venezuelano alimenta criança em Roraima. Crédito da foto: Mauro Pimentel / AFP

É necessário aumentar a velocidade da transferência dos migrantes venezuelanos de Roraima para outros estados brasileiros para evitar que se repitam conflitos como o que aconteceu em Pacaraima no sábado (18). Essa é a mensagem do general Eduardo Pazuello, coordenador da força tarefa que atua no estado para ajudar no acolhimento dos venezuelanos que fugiram para o Brasil para tentar escapar da crise humanitária e política em seu país.

"Há pólvora no chão, se não acontecer nada e ficar todo mundo na rua, pode acontecer outro incidente a qualquer momento, se não aumentarmos a velocidade de escoamento", disse Pazuello à Folha de S.Paulo. Ele esteve em São Paulo nesta quinta-feira (23) para participar de um seminário na Fundação Fernando Henrique Cardoso.

No sábado, após um comerciante ser assaltado e agredido por quatro venezuelanos, brasileiros foram às ruas queimando os pertences e expulsando migrantes das ruas de Pacaraima, principal porta de entrada dos imigrantes. Pazuello acredita que as medidas recém-anunciadas pelo governo federal devem ajudar a eliminar o acúmulo de migrantes à espera de regularização de documentos em Boa Vista e acelerar a chamada "interiorização".

"Há pólvora no chão, se não acontecer nada e ficar todo mundo na rua, pode acontecer outro incidente a qualquer momento, se não aumentarmos a velocidade de escoamento"

Viviane Esse, assessora especial da Casa Civil, anunciou que mil venezuelanos serão "interiorizados" até o início de setembro - uma aceleração considerável no processo, considerando que, em seis meses, o governo só conseguiu transferir 820 pessoas.

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Para isso, o governo vai flexibilizar as exigências para a transferência. Anteriormente, só interiorizavam venezuelanos que tinham vaga garantida em algum abrigo nos estados. "Mas as vagas nos abrigos estaduais já são usadas para população de rua, dependentes químicos", disse Esse. Agora, algumas das pessoas transferidas não serão mandadas com vaga garantida em abrigo. "Muitos venezuelanos não precisam de tanta tutela do estado, têm mais condições", diz Pazuello.

Além disso, o governo pretende promover aluguel de prédios para abrigar venezuelanos – o aluguel será pago por agências da ONU, que também farão a gestão do local, enquanto o Exército vai fornecer a alimentação. "Isso deve aumentar o número de vagas disponíveis", diz Esse.

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Pazuello diz que há muito exagero e fake news acirrando as tensões em Roraima. "Estão exagerando o número das pessoas que estão nas ruas - são entre 1.600 e 2.000 em Boa Vista, e entre 500 e 700 em Pacaraima", diz. O governo estadual afirma que há mais de 2.000 pessoas dormindo nas ruas de Boa Vista e 1.500 em Pacaraima. "Não queremos minimizar, mas temos números", afirma Esse. Segundo ela, dos 127 mil que entraram até início de julho, 60% já saíram.

O governo pretende promover aluguel de prédios para abrigar venezuelanos – o aluguel será pago por agências da ONU

A operação vai abrir ainda mais dois abrigos, um na capital e outro em Pacaraima, aumentando o número de vagas de 4.700 para 6.000. No seminário, o embaixador Norberto Moretti, diretor do departamento de América do Sul Setentrional do Itamaraty, voltou a dizer que a pasta apoia a classificação da Venezuela como um país onde há violação grave e generalizada de direitos humanos, o que qualificaria seus imigrantes a conseguirem facilmente o status de refugiado.

Mas, segundo ele, a decisão depende do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), que é formado por diversas outras pastas e ainda não chegou a um consenso. Após o confronto no sábado, o governo de Roraima pediu ao STF o fechamento da fronteira e a pronta redistribuição dos venezuelanos para outros estados do Brasil, mas ainda não obteve resposta. O governo federal é contra a medida. (Patrícia Campos Mello - Folhapress)