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Remédio para emagrecer causa corrimento anal e funciona menos do que dieta, aponta estudo

15 de Setembro de 2020 às 11:35
Senhor Tanquinho [email protected]

A obesidade é um dos maiores males da humanidade atualmente, sendo considerada uma epidemia. Segundo estudos, cerca de 23% dos adultos do mundo já estão acima do peso, e a estimativa é que esse número atinja 38% da população até 2030, com outros 20% das pessoas sendo obesas.

Embora o conselho clássico ainda seja "coma menos e se exercite mais", muitas pessoas têm apelado para os remédios para emagrecer  — e isso se reflete nos números da indústria farmacêutica.

Segundo a consultoria GlobalData, a indústria farmacêutica só no Brasil deve atingir os 48 bilhões de dólares até 2020 - um crescimento médio de 8,5% ao ano, motivado inclusive pela alta incidência de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade. Sendo que todos esses são sintomas associados à síndrome metabólica.

Um dos remédios mais promissores neste sentido é o Xenical ou Orlistat. Este medicamento atua inibindo a absorção da gordura alimentar no intestino, e fazendo com que ela saia inalterada nas fezes do paciente. Segundo estudos, o remédio pode ter eficiência no emagrecimento, quando utilizado em conjunto com dieta e exercícios.

No entanto, nem tudo são flores. Estudos e relatos apontam que o uso do orlistat causa "vazamento de fezes", causando manchas em roupas íntimas e constrangimento aos pacientes. Além de gases, dores abdominal, e fezes com consistência de óleo  — e má absorção de diversas vitaminas. Ademais, existem relatos de danos aos rins e ao fígado.

Será que este é o preço a se pagar para emagrecer? Felizmente, parece existir outra solução.

Dieta cetogênica: melhor que remédio?

Existe um estudo muito pouco falado de 2010 que comparou de fato o remédio Orlistat com uma dieta cetogênica para emagrecer. Dois grupos foram comparados neste estudos.

Para um deles, a recomendação era seguir uma dieta bem low-carb (cetogênica), com menos de 20g de carboidratos por dia. Para o outro grupo, a recomendação foi de ingerir orlistat 3x ao dia, e consumir uma dieta de baixa gordura (menos de 30% das calorias), com um déficit calórico diário de 500 a 1000 kcal por dia.

Ou seja: uma das intervenções controlou apenas a ingestão de carboidratos, e a outra controlou a quantidade de gordura, a quantidade de energia total ingerida, e ainda administrou um remédio com custo financeiro e efeitos colaterais.

Resultados

O estudo durou 48 semanas, e mostrou uma perda de peso similar em ambos os grupos. (Os pacientes perderam cerca de 9% de seu peso corporal.) No entanto, apenas o grupo com a dieta cetogênica foi capaz de mostrar melhora na pressão sanguínea de seus participantes.

Segundo os autores, é importante notar o seguinte: "Se uma dieta low-carb é pelo menos comparável com os efeitos de um medicamento para perda de peso, então ela pode ser uma alternativa atraente para médicos  — uma vez que é mais simples e menos cara do que uma terapia que usa dieta mais medicação em conjunto."

Polêmica

A dieta cetogênica nada mais é do que uma dieta low-carb ainda mais restrita. Ela conta com a redução do consumo de carboidratos (especialmente refinados) como estratégia para emagrecer e melhorar marcadores de saúde.

Sua aceitação atualmente divide especialistas, com alguns a apontando como solução para a "epidemia de obesidade e diabetes" e outros a relegando a "mais uma dieta da moda".

Referências

 

 

  • Kelly, T., Yang, W., Chen, C. S., Reynolds, K., & He, J. (2008). Global burden of obesity in 2005 and projections to 2030. International journal of obesity (2005), 32(9), 1431–1437.

 

 

  • Ng, M., Fleming, T., Robinson, M., Thomson, B., Graetz, N., Margono, C., Mullany, E. C., Biryukov, S., Abbafati, C., Abera, S. F., Abraham, J. P., Abu-Rmeileh, N. M., Achoki, T., AlBuhairan, F. S., Alemu, Z. A., Alfonso, R., Ali, M. K., Ali, R., Guzman, N. A., Ammar, W., … Gakidou, E. (2014). Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet (London, England), 384(9945), 766–781.

 

 

  • Guia Interfarma, com dados do setor https://www.interfarma.org.br/guia/guia-2018/dados_do_setor#mercado_farmaceutico_mundial

 

 

  • Hollywood, A., & Ogden, J. (2011). Taking Orlistat: Predicting Weight Loss over 6 Months. Journal of obesity, 2011, 806896.

 

 

  • Sumithran, P., & Proietto, J. (2014). Benefit-risk assessment of orlistat in the treatment of obesity. Drug safety, 37(8), 597–608.

 

 

  • Yancy, W. S., Jr, Westman, E. C., McDuffie, J. R., Grambow, S. C., Jeffreys, A. S., Bolton, J., Chalecki, A., & Oddone, E. Z. (2010). A randomized trial of a low-carbohydrate diet vs orlistat plus a low-fat diet for weight loss. Archives of internal medicine, 170(2), 136–145.