Folia do Divino toma conta do centro de Itu neste domingo
Quem aprecia manifestações folclóricas ou simplesmente gosta de passeios diferentes não pode deixar de visitar Itu neste domingo (2). A partir das 9h30, as ruas centrais da cidade abrirão espaço para a passagem do tradicional Cortejo Solene da Bandeira do Divino Espírito Santo. Também conhecida como Folias do Divino, a celebração é realizada no município há cerca de 250 anos.
Durante o evento cultural-religioso de mais de seis séculos de existência, o cortejo formado por músicos, cantores e fiéis católicos, usando camisa branca e lenço vermelho sobre os ombros, visita as residências e demais prédios do trajeto para comunicar a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e sobre Maria, sua mãe. A celebração faz parte do Pentecostes, que acontece 50 dias após a Páscoa.
Quase extinta na maioria das grandes cidades, as Folias do Divino já foi um dos rituais mais populares em Portugal e nos países de colonização lusitana. Em Itu, a prática sobrevive graças à parceria do poder público com iniciativas comunitárias. Atualmente, o Cortejo Solene é uma iniciativa do Museu da Música. A organização fica a cargo do Núcleo Cultural da Folia do Divino de Itu, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Museu da Energia, Espaço Fábrica São Luiz, Associação Cultural Vozes de Itu e Instituto Cultural de Itu.
Religião e cultura
De acordo com a tradição, a comitiva das Folias do Divino é presidida pelo alferes, uma antiga patente militar portuguesa que equivalia a um posto logo abaixo de tenente. A este personagem compete carregar a Bandeira do Divino e anteceder os companheiros em cada visita realizada durante o trajeto, os chamados pousos.
Até o início do século passado, o encargo de alferes era disputado como se fosse uma eleição política, com direito a campanha de porta em porta. Nos dias atuais, a escolha é feita por meio de consenso entre os organizados. Neste ano, a tarefa coube ao empresário Gilberto Romanatto.
Em cada pouso, ao som de violas caipiras, tambores, rabecas e do Coral Vozes de Itu, o alferes entroniza a Bandeira em local de destaque e previamente ornamentado pelos moradores da casa. Em seguida, a família visitada e seus vizinhos se reúnem para receber as Bênçãos do Divino. Além da cantoria dos violeiros, o coral entoa as Jaculatórias do Divino Espírito Santo.
Outra cerimônia importante durante a Folia é a recitação dos sete dons do Divino Espírito Santo. Estes são lembrados nas orações conduzidas pelo curador da comitiva.
Percurso da Comitiva
O percurso da Folia do Divino de Itu em 2019 é o seguinte:
- 1º Pouso, às 9h30 - Museu da Música (Rua Floriano Peixoto, 480);
- 2º Pouso, às 10h00 - Espaço Fábrica São Luiz (Rua Paula Souza, 492);
- 3º Pouso, às 10h15 - Lar Escola Santo Inácio (Rua Paula Souza, 564);
- 4º Pouso, 10h30 - Antiquário Lila (Rua Paula Souza, 607);
- 5º Pouso, 10h45 - Museu da Energia (Rua Paula Souza, 669);
- 6º Pouso, 11h00 - Antiquário Casa Amarela (Rua Paula Souza, 740);
- 7º Pouso, 11h15 – Espaço Cultural Almeida Júnior (Rua Paula Souza, 664, no Centro).
No Espaço Cultural Almeida Júnior, a Folia do Divino de 2019 chega ao fim com a solene colocação e canto de despedida da Bandeira do Divino Espírito Santo. Todos os pousos permanecem abertos no domingo pela manhã, para visitação pública.
Sete séculos de tradição
Segundo a tradição, as Folias do Divino tiveram origem em Portugal, nas primeiras décadas do século XIV. A iniciativa teria sido da rainha Isabel (1271-1336), esposa do rei D. Diniz (1261-1325), com a construção da Igreja do Divino Espírito Santo, na Vila de Alenquer, localizada nos subúrbios de Lisboa.
Da capital do império, a comemoração se espalhou para as colônias, chegando ao Brasil no século XVI. Em pouco tempo, a festa fazia parte do calendário da maioria das cidades e vilas, especialmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A comitiva completa da Folia inclui todos os personagens que compunham a Corte Portuguesa, dos pajens ao próprio imperador.
Conforme o historiador Luiz da Câmara Cascudo, a festa popularizou-se a ponto de ter motivado José Bonifácio, "astutamente", a escolher para Pedro I o título de Imperador, e não de Rei, "porque o povo estava mais habituado com o nome", por causa do Divino.
Apesar de sobreviver em poucas cidades, algumas características do evento se mantêm, como a Bandeira do Divino. O principal símbolo do evento é enfeitado com fitas coloridas, que são substituídas ano a ano. À medida que o cortejo segue, as fitas recebem nós, feitos pelos visitados, muitos deles fazendo pedidos ao Espírito Santo.
Carros de boi
Registrada em aquarela por Miguel Dutra e citada nas crônicas de Francisco Nardy Filho, as Folias do Divino foram tradição significativa em Itu, entre o século 18 e meados dos anos 1900. Durante muito tempo, a festividade incluía carros de bois enfeitados e adaptados para que as rodas fizessem o maior barulho possível. "Da Igreja do Carmo era possível ouvir o som assustador do desfile que começava na Estação do Trem e subia a Paula Souza até a Rua Barão do Itaim", relata Raul Machado de Carvalho, lembrando que os carros mais bonitos e barulhentos ganhavam prêmios.
O interesse da população pela Folia, no entanto, diminuiu a partir de 1970, chegando a desaparecer por algumas décadas. A retomada da tradição aconteceu em 2014, por iniciativa do Museu da Música.
Serviço
Mais informações sobre a Folia do Divino de Itu podem ser obtidas no site da Prefeitura de Itu.
O Município de Itu está localizado no nordeste da Região Metropolitana de Sorocaba. Fica a 40 quilômetros de Sorocaba, a 120 quilômetros de São Miguel Arcanjo e a 80 quilômetros de Tatuí.
* Com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Itu.
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