Consumo consciente de água em época de escassez é a mensagem da data
Sorocaba enfrenta efeitos da pior crise hídrica dos últimos 90 anos e economia é a palavra de ordem
Economizar para não faltar. Essa tem sido a nova realidade da população de Sorocaba desde o ano passado, com o enfrentamento da pior crise hídrica dos últimos 90 anos. Os impactos, no entanto, não foram vivenciados apenas pela Terra Rasgada. Outros municípios da região também tiveram de alterar suas rotinas de abastecimento para evitar a interrupção absoluta de água. Dessa forma, o Dia Mundial da Água, celebrado nesta terça-feira (22), traz um alerta importante: o consumo consciente de água em tempos de escassez.
A seca deu-se de forma tão intensa que a represa de Itupararanga, responsável por abastecer mais de um milhão de pessoas na região, chegou a operar com pouco mais de 20% de sua capacidade em novembro do ano passado -- um dos períodos mais críticos da estiagem. Para se ter uma ideia da gravidade, o padrão considerado ideal é de 52,95%, dentro da faixa de operação da usina, mas abaixo da Média de Longo Termo (MLT). Devido à situação crítica, dez cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) chegaram a decretar estado de alerta.
Outros municípios encontraram, na alteração de abastecimento de água, uma alternativa. Sorocaba, Salto, Porto Feliz, Araçoiaba da Serra e Itu instauraram planos de racionamento ou rodízio de água na tentativa de frear os efeitos negativos da estiagem. Embora a maioria das cidades tenha suspendido as medidas de contenção, Sorocaba e Salto continuam dividindo o abastecimento de água em horários distintos. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), por sua vez, anunciou o fim gradativo do rodízio em Sorocaba. Segundo a autarquia, o sistema vigorará até 2 de abril.
Acima da média
Cada sorocabano consome 188,23 litros de água por dia. A média é 21,4% maior em relação ao índice nacional, que é 155 litros por habitante. Segundo o Saae, a cidade possui 239.117 ligações ativas. O consumo de água tratada por dia é de 198.720 litros (2.300 litros por segundo). O consumo humano diário varia muito se for considerado o local onde se vive, os hábitos, vazamentos, uso de máquinas que precisam de água, modelo de descargas e sistemas de fechamento de torneiras.
De acordo com dados de 2021 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), o índice de perda de água na distribuição de Sorocaba está abaixo da média nacional, que é de 40,1%, e também da média da região sudeste do País, de 38,1%. Ainda, conforme o levantamento, o índice de perdas totais em Sorocaba caiu de 36,21% (SNIS 2020) para 36,07% (SNIS 2021).
De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, aproximadamente 16,23% desse percentual são de perdas reais propriamente ditas, ou seja, escapes de água. O restante é de perdas aparentes, isto é, decorrentes de submedição, erro no medidor, hidrômetro ou ligações clandestinas, por exemplo. Os dados também mostram que a cidade vem apresentando melhora ano a ano e segue positivamente, na contramão da média do Brasil, cujo índice subiu de 39,2% (SNIS 2020) para 40,1% (SNIS 2021), assim como o da região sudeste do País, que foi de 36,1% (SNIS 2020) para 38,1% (SNIS 2021).
Rio Sorocaba
Nesta terça-feira (22), também celebra-se o Dia do Rio Sorocaba, um dos maiores responsáveis pelo abastecimento de água da cidade, segundo o professor Antonio Carlos Gonçalves, coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Uniso. Para ele, a dependência que o município tem do rio é clara, porém, falta atenção por parte da população.
“Todo mundo imagina que Itupararanga abastece 85% das cidades da região sozinha, mas, na verdade é o rio Sorocaba. Com a nova estação de tratamento de água [ETA Vitória Régia], a água é captada diretamente do rio. O rio é abastecido pelos afluentes, enquanto a represa que faz regulação da água. O que podemos observar é uma ‘escadinha’ ano a ano, que cada vez começa com níveis mais baixos nos reservatórios que abastecem o município”, diz o professor.
Ele também destaca que o calor intenso tem correlação direta com a evaporação da água, que sobe mais quente para a atmosfera. Gonçalvez explica que é necessário medidas educativas para as pessoas conhecerem a importância do único rio da cidade, além de estímulos à adesão do consumo sustentável de água.
“O rio tem de ser visto com atenção por toda a população, ele não é efeito de paisagem. Temos de entender que não temos onde ir buscar mais água. Somos uma região pobre em termos de água subterrânea. Não é assim: ‘Ah, qualquer coisa, eu faço um poço’. Água de poço para abastecer uma cidade é de Bauru para frente”, finaliza. (Wilma Antunes)