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Veterinária

Animais de grande porte em foco

Uso de membranas de celulose como curativos

06 de Dezembro de 2023 às 09:00
Fábio Custódio pesquisou como o uso de membranas de celulose pode servir como curativos para bovinos
Fábio Custódio pesquisou como o uso de membranas de celulose pode servir como curativos para bovinos (Crédito: Fernando Rezende)

Um professor do curso de Veterinária. Uma pesquisadora da área de membranas de celulose. Outra de avaliação de novos produtos in vivo. E uma coordenadora de curso incentivadora dos estudos de seus docentes. Essas quatro cabeças foram responsáveis por pensar no projeto de pesquisa que culminou com a dissertação de mestrado "Avaliação do Uso de Membranas de Nanocelulose Bacteriana com e sem Nisina como Tratamento Complementar em Feridas Cirúrgicas de Dermorrafia em Bovinos", do agora mestre Fábio André Ferreira Custódio, realizada no Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais (PTA) da Universidade de Sorocaba (Uniso).

A orientadora do trabalho, professora doutora Denise Grotto, destaca o processo de desenvolvimento da ideia, que veio de uma parceria inicial entre ela e outra docente do mesmo Programa, a professora doutora Angela Faustino Jozala, que foi coorientadora. "Angela é quem desenvolve as membranas de celulose. A minha área é a de avaliação de novos produtos in vivo. Então, nossa parceira tem dado muito certo, ela desenvolvendo produtos e eu fazendo as aplicações e estudos de segurança. "Nesta dissertação, a professora doutora Ana Carolina Rusca Corrêa Porto, que foi coordenadora do curso de Veterinária da Uniso, e o Fabio me procuraram, pois o Fabio estava interessado em fazer seu mestrado", relembra.

Neste sentido, um procedimento que as professoras do PTA já estavam testando em ratos foi expandido para bovinos, que é a área de Custódio, que tem uma fazenda e trabalha com grandes animais em suas aulas. "Utilizamos como modelo experimental bovinos, até por ser minha área de atuação na Veterinária, mas a ideia surgiu pela professora Ana Carolina, que sempre me dizia que queira fazer um experimento utilizando descorna cirúrgica, pois, dessa forma, além de fazer comparações com outros animais, poderia utilizar um animal como controle dele mesmo, já que possui dois chifres", ressalta o autor da dissertação. Além disso, a descorna bovina, um procedimento comum na área da veterinária, possui o tratamento pós-cirúrgico lento e que, muitas vezes, resulta em infecções.

Assim, o desenho da pesquisa envolveu bovinos divididos em dois grupos: um deles com um dos cornos com curativo de membranas de celulose e o outro dos cornos com tratamento pós-cirúrgico padrão, e outro grupo com um dos cornos com curativo usando a nisina, que é um peptídeo com atividade antimicrobiana, incorporada na membrana de celulose, e o outro dos cornos também com tratamento padrão. "O projeto foi inédito em animais de produção, e, apesar de ter sido realizado em bovinos, a ideia era avaliar a aplicação em qualquer espécie animal para feridas cirúrgicas", aponta Custódio.

A orientadora concorda com a relevância e o ineditismo do trabalho. "O aspecto mais relevante do trabalho foi o uso da biotecnologia na clínica de animais de grande porte. Os tratamentos são bastante padronizados na área dos 'grandes', e não existe quase nada novo. O que era feito antigamente continua sendo feito. Então, a grande contribuição é a inovação adentrando nessa área. Temos muitos bioprodutos, muitas novas tecnologias na área humana; e conseguir extrapolar isso para a clínica de animais é de grande importância tanto pensando nos ganhos com saúde, como também em novas oportunidades de mercado", aponta Grotto.

Como resultados da dissertação, foi possível verificar uma melhora na resposta na cicatrização com a utilização da membrana de celulose quando comparado ao controle. Mas não houve diferença significativa entre o uso da membrana pura comparada com a membrana com nisina. "Tivemos alguns problemas relacionados à avaliação histológica das amostras coletadas devido à pandemia, mas no geral percebemos que a utilização de membrana nas feridas pode ser explorada, com muitos estudos que ainda devem ser feitos. A ideia para o futuro seria desenvolver algum produto à base de celulose bacteriana de fácil aplicação, como sprays, pomadas etc.", destaca Custódio.

Outras ideias de continuidade do trabalho envolvem testar esse mesmo curativo com outras doses de nisina, com maior tempo de análise e também em cirurgias mais simples, uma vez que a descorna acabou se mostrando mais complexa do que o previsto inicialmente. A orientadora relembra que "as análises de cicatrização óssea acabaram não sendo muito satisfatórias. Não foi pelo curativo em si, mas pela complexidade e pelo tempo de cicatrização, que leva em torno de seis meses. Não tínhamos muito tempo, por conta da pandemia, e precisamos fazer biópsias dos tecidos dos cornos antes disso".

Para saber mais: “Dermorrafia”

Este é um procedimento comum na área, cuja recuperação costuma ser lenta e passível de infecções. Assim, a ideia geral da dissertação foi a utilização de membrana de celulose bacteriana em feridas cirúrgicas para a melhoria da cicatrização.

Com base na dissertação "Avaliação do Uso de Membranas de Nanocelulose Bacteriana com e sem Nisina como Tratamento Complementar em Feridas Cirúrgicas de Dermorrafia em Bovinos", do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação da professora doutora Denise Grotto e coorientação da professora doutora Angela Faustino Jozala, aprovada em 16 de dezembro de 2020. Acesse a pesquisa.

O trabalho, além da própria dissertação, também rendeu aos envolvidos uma publicação em revista de qualidade, a Pharmaceutics. O acesso é aberto e gratuito.

Texto: Edison Trombeta